São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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DEPOIMENTO

Pedalar na Dinamarca nos deixa 'mal acostumados'

Há quase um ano no país, brasileiro relata seu cotidiano com a bicicleta

WILSON GOTARDELLO FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM AARHUS, DINAMARCA

É muito fácil ser ciclista na Dinamarca. Mesmo em Aarhus, segunda maior cidade do país (com pouco mais de 300 mil habitantes), onde as ruas não são planas como na capital Copenhague, tudo é feito a favor de quem se locomove em bicicletas.
O centro fica em uma espécie de vale, enquanto a universidade e os bairros residenciais circundam a região. É no topo de uma colina em que vim morar em agosto de 2010, quando deixei para trás as ladeiras do Sumaré, na zona oeste de São Paulo.
À primeira vista, ciclovias em inúmeras subidas e descidas podem ser questionadas. A impressão dura pouco.
A infraestrutura para os ciclistas é de deixar qualquer paulistano que goste de pedalar com inveja.
As ciclovias são largas (algumas cabem até quatro bicicletas lado a lado), a sinalização é ampla (há semáforos e placas) e os códigos de conduta são levados a sério.
Tanto os ciclistas, que nunca viram sem antes sinalizar com as mãos, quanto os motoristas, que sempre esperam, se respeitam.

DEVERES
Tamanha organização criou deveres. Os ciclistas são obrigados a instalar sinalizadores frontais e traseiros nas bicicletas. O descumprimento da lei está sujeito a multa. O capacete, mesmo não obrigatório, faz parte da indumentária da maioria.
Durante o inverno, quando as temperaturas chegam a 15 graus negativos, a neve toma conta da paisagem. Mas a bicicleta não perde seu papel de protagonista. Antes de amanhecer, a prefeitura garante a limpeza da neve nas principais ciclovias.
As que levam estudantes e professores à universidade são as primeiras a receber o trator. Com o passar das milhares de bicicletas ao longo do dia, o gelo raramente chega a acumular de novo ali.
Após um seminário no ano passado, lembro de sair do anfiteatro ao lado do professor Georg Sorensen, um dos mais importantes do departamento de ciências políticas da Universidade de Aarhus.
Conversávamos sobre amenidades e seguíamos para um jantar no centro da cidade. Espantei-me quando Sorensen, sem interromper nossa conversa, destravou sua bicicleta, estacionada ao lado da minha. Seguimos juntos, palestrante e espectador, rumo ao jantar.
Lembrei-me dos meus tempos de faculdade no Brasil. Não era possível recordar algum professor que fizesse uso da bicicleta no dia a dia.

PARA TODOS
Nas ruas das cidades dinamarquesas, sexo, idade, profissão e classe social não determinam quem pedala ou não uma bicicleta.
Os bem pequenos usam um modelo sem pedais, em que sentam e esticam as pernas até o chão, equilibrando-se com impulso, como se fosse um treino para assumir uma bicicleta de verdade.
Por todos os bairros, encontram-se facilmente locais de conserto, compra ou venda de modelos usados.
Em Aarhus, pode-se também alugar uma em um dos muitos bicicletários públicos. Basta inserir uma moeda de 20 coroas (cerca de três euros) e sair pedalando. Não são bicicletas perfeitas. Não têm marchas e podem não estar em ótimo estado, mas são ideais para turistas.
Os moradores, no entanto, raramente optam pelas bicicletas públicas. Em geral, cada um tem a sua.
Pedalar na Dinamarca deixa qualquer brasileiro mal acostumado.


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