São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O mundo mágico de Kelly

Conhecida como Bonequinha de Luxo , jovem acusada de estelionato contra gente da alta sociedade diz gostar de adrenalina

GIBA BERGAMIM JR.
ENVIADO ESPECIAL A VIRADOURO (SP)

Blusa de lã Lacoste sobre camiseta de lycra Calvin Klein, calça Ellus e tênis Reebok é o modelito usado por Kelly Samara Carvalho dos Santos, 22, a Bonequinha de Luxo, Golpista dos Jardins ou Penélope Charmosa.
Os apelidos foram dados à jovem que, aos 19 anos, ganhou notoriedade após ser acusada de estelionato, sempre tendo como vítimas pessoas envolvidas com a alta sociedade paulistana.
Foi com esse look patricinha que Kelly Samara recebeu a Folha na Cadeia Pública de Viradouro (398 km de SP). "Você não vai me esculachar na reportagem não, né?", indaga, logo de cara.
Anéis dourados e brincos de pérola, a jovem conhecida das autoridades de Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo trata rápido de se proteger. "Só falo de processo na frente do juiz."
Após usar o nome de Kelly Tranchesi -sobrenome da dona da luxuosa loja Daslu -, ela virou a Bonequinha de Luxo assim que foi presa em São Paulo, em 2007.
Foi acusada de furtar um quadro de Joán Miró, avaliado em R$ 37 mil, numa galeria de arte, fazer compras na Oscar Freire com cheques furtados e aplicar golpes numa idosa dos Jardins.
"Fui absolvida (do roubo do quadro). Não tinha nem força para erguer a moldura", defende-se.
Nos 43 minutos de conversa, uma frase resume seu estilo de vida até aqui. "Gosto de sentir adrenalina."
No TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), respondeu a quatro processos, acusada de furto e estelionato.
De 2007 para cá, foram mais três prisões. Em 2009, no Rio e em Barretos (SP), e a última, no dia 13 de maio passado, em Bebedouro (381 km de SP), mais um capítulo da saga interrompida várias vezes pelo entra e sai da cadeia.
Por fim, foi parar na cadeia feminina da cidade vizinha, Viradouro. Kelly não se vê criminosa. "Confessar eu não confesso. Me acusaram, eu quero que provem."

"APOSENTADA"
Quando é questionada se usaria meios fraudulentos para obter vantagens, responde: "Me aposentei. Sério".
Para policiais e promotores, porém, é uma criminosa incorrigível, que cria personagens grandiosos para se infiltrar nas altas rodas e aplicar golpes -vida de tramas iniciada aos 13 anos, em Amambai, cidade de 37 mil habitantes, em Mato Grosso do Sul.
"Mas eu não vivo num mundo fantasioso. Tenho o meu mundo, quem vive nele são as pessoas que estão perto de mim. E as pessoas sabem, não tenho fantasia."
A última prisão foi por causa de uma acusação de furto em Dourados (MS). Se tivesse comparecido às audiências, estaria em liberdade. A polícia paulista só cumpriu uma determinação judicial.
Kelly -"Odeio esse nome horrível, meu nome é Samara", insiste - é, segundo a polícia, inteligente.
Usa palavras como "deslizes" para falar do que aprontou aos 19 anos. Mas aplica termos jurídicos com desenvoltura para se declarar inocente: "transitado em julgado" e "teor do processo" são os preferidos, sempre com sotaque caipira e entremeadas por erros de português.
Brada que sairá da cadeia e viverá por meios legais. "Aprendi. Apanhei muito da vida. Tenho só 23 anos [até julho ainda tem 22], mas se eu te falar tudo o que eu já vivi...."
Cortou o contato com a família. O pai, com quem diz ter vivido, lhe deu as costas após as denúncias. A mãe, conta, a deixou quando ela era bebê.
Questionada sobre por que gosta tanto de estar na alta roda, vai direto: "Não cresci na favela. E você não gosta de coisa boa, por acaso?".


Texto Anterior: Onças voltam a habitar região de canaviais do Estado
Próximo Texto: Acusada é dissimulada, afirma promotor
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.