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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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SEGURANÇA

Para pesquisadores, crescimento econômico no interior atraiu moradores, mas falta de empregos gerou miséria

"Cidades foram vítimas do próprio sucesso"

DA REPORTAGEM LOCAL

"A rota do crime segue na esteira da rota da riqueza" e os municípios do interior que conseguiram enriquecer foram "vítimas de seu próprio sucesso". As explicações sobre a interiorização do crime no Estado de São Paulo, que podem ser consideradas contraditórias inicialmente, são de pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP).
O sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do NEV, e a psicóloga social Nancy Cardia, coordenadora de pesquisas do núcleo, foram convidados pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a analisar a situação da cidade, uma das principais do Estado, mas acabaram ajudando a explicar o fenômeno que atinge várias regiões do interior paulista.
Segundo eles, a causa da violência nas cidades interioranas está nas décadas de 80 e 90, quando um crescimento econômico atraiu trabalhadores de outras regiões. Mas, com a oferta insuficiente de vagas, surgiram bolsões de miséria, favelização e o narcotráfico -processo semelhante ao das grandes metrópoles.
A falha dos poderes públicos, entre eles a polícia, é ter deixado isso acontecer, diz Adorno.
A cidade de Cubatão, segundo a expressão dos pesquisadores, pode ser considerada "vítima do próprio sucesso". Segundo o prefeito Clermont Silveira Castor (PL), as indústrias atraíram trabalhadores, mas a oferta de empregos caiu. Hoje, 60% dos 107 mil habitantes vivem em favelas. "Cubatão sempre foi uma cidade ordeira e pacífica. Mas faltou ação preventiva da polícia. Não posso generalizar, mas em Cubatão eles investiram pouco", disse Castor.
Para Sérgio Adorno, a saída para deter o avanço da interiorização da violência está no que ele chama de "contrato local de segurança pública". Autoridades municipais, com participação da comunidade, fariam um diagnóstico da situação e estabeleceriam as prioridades. "Existe dificuldade de a polícia se articular com as comunidades. Muitos policiais fazem questão de esconder os dados nas suas cidades", diz o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva.


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