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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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ENTREVISTA

Pacientes com câncer de pulmão melhoram com quimioterapia

DA REPORTAGEM LOCAL

Está provado que a quimioterapia melhora as chances de recuperação de pacientes com câncer de pulmão. São 10% de aumento nas taxas de sobrevida naqueles em estágio avançado da doença. Parece pouco. Mas hoje, sem quimioterapia, apenas 50% dos que descobrem esse câncer já avançado sobrevivem passados cinco anos. O novo protocolo de tratamento garante 55% de sucesso.
A pesquisa, com 1.867 pacientes de 33 países, o Brasil incluído, foi uma das escolhidas entre 3.000 trabalhos para ser apresentada com destaque em um dos maiores congressos sobre câncer do mundo. O evento foi realizado pela Asco (a sociedade norte-americana de oncologia clínica) em Chicago, no início do mês.
"Esse processo que ocorre com o câncer de pulmão é uma revolução semelhante à que ocorreu com o câncer de mama", afirma Riad Younes, 43, chefe do Departamento de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer de São Paulo -uma das instituições participantes do estudo.
O câncer de pulmão é o que mais mata no país e no mundo. O Inca (Instituto Nacional do Câncer), que também participou do estudo, projeta para este ano 16.230 mortes pela doença. (FL)
 

Folha - O que mudou ?
Riad Younes
- O grande problema do câncer de pulmão é que, mesmo nos casos com diagnóstico precoce, um número substancial de pacientes acaba morrendo da "doença espalhada" [metástase]. É muito lógico pensar em tratar também o resto do corpo [com a quimioterapia], como se faz com o câncer de mama. A idéia não é nova. Mas não tínhamos comprovado que fazer quimioterapia após tirar o tumor do doente fazia alguma diferença.
Os esquemas [de quimioterapia] não eram tão bons, assim como o número de doentes e os protocolos de pesquisa. Então, em 95, juntou-se um número grande de pesquisadores para tentar responder essa pergunta: vale ou não vale fazer a quimioterapia? Salvamos mais alguém ou não?
Conseguimos comprovar que a quimioterapia mudou a chance de sobrevida dos doentes. A diferença agora é que, mesmo no estágio inicial, faremos a cirurgia e depois a quimioterapia [antes o paciente era só operado].

Folha - Quanto houve de ganho?
Younes
- No câncer detectado precocemente, as chances de cura são de 70%, 80% a longo prazo. Pula de 80% para 85%. Para os casos mais avançados, de 50% para 55%. São cinco pontos percentuais. O ganho relativo nesse caso é de 10%.

Folha - Que tipo de esquema quimioterápico garantiu o resultado?
Younes
- O mais interessante é que não precisa fazer uma quimioterapia extremamente sofisticada. Elas são cada vez mais simples, baratas, breves. Há quimioterapias que praticamente não mudam o ritmo de vida. Os índices de complicações diminuíram.

Folha - O protocolo muda a partir de quando?
Younes
- Como o estudo foi divulgado há alguns dias, as sociedades [de cancerologia] estão avaliando. Mas oncologistas, individualmente, já podem se considerar adequadamente munidos de resultados para propor a quimioterapia aos doentes.

Folha - Por que o câncer de pulmão mata tanto?
Younes
- Ele infelizmente dá pouco sintoma específico. Em geral, dá em fumante, e fumante tosse normalmente. Esse câncer frequentemente se espalha, mesmo precoce. A célula tumoral facilmente entra na veia e se dissemina. E muitos dos pacientes demoram para procurar o médico.

Folha - Quem não se convence a parar de fumar deve fazer check-up com qual frequência?
Younes
- Recomendamos um raio-X anual. Provavelmente, no futuro, confirmaremos a vantagem de fazer a tomografia anual e não mais a radiografia.
Além disso, se a voz mudou durante duas ou três semanas, procure o médico. Saída de sangue no catarro e dores torácicas que não passam também devem ser investigadas.


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