São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Veto a caminhão mudará rotina de SP

Lei que restringe a circulação de caminhões entra em vigor amanhã e vai ampliar trânsito à noite

Prefeitura quer retirar das ruas, até agosto, 100 mil dos 210 mil caminhões que trafegam todos os dias na cidade e reduzir lentidão

ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI

DA REPORTAGEM LOCAL

A professora Maria Isabel Rodrigues não suporta a confusão do trânsito em Pinheiros (zona oeste de SP), tal a quantidade de caminhões para carregar e descarregar móveis, ocupando até duas faixas da via.
O problema tende a ser atenuado a partir de amanhã, quando será proibida a circulação de boa parte dos caminhões das 5h às 21h na maioria do centro expandido da capital -aposta de Gilberto Kassab (DEM), às vésperas das eleições, para melhorar a fluidez.
Mas, em troca da esperada melhoria dos congestionamentos, Rodrigues e outros paulistanos vão enfrentar efeitos colaterais que devem provocar mudanças na rotina da cidade e nos hábitos da população.
A professora talvez chegue mais rápido em casa, sem perder dez minutos para percorrer um só quarteirão, mas deve ser incomodada pelo barulho dos entregadores à noite e dos caminhões na hora de dormir. "Se for colocar na balança, acho que vai ficar melhor", defende.
Ela também poderá se surpreender com algum trânsito tardio. Poderá esperar mais para receber a geladeira nova. E, inicialmente, até sentir a falta de um produto na padaria.
"Quem está contente ainda pode mudar de idéia e achar que não é tão bacana quando faltar dinheiro no caixa eletrônico", rebate Manoel de Souza Lima Jr., vice-presidente do Setcesp (sindicato das transportadoras), em referência a eventual impacto na distribuição do transporte de valores por causa da mudança.
O impacto da medida é esperado com temor principalmente pelo pequeno comércio. Mas deve provocar mudanças que vão do tráfego ao horário de prédios para receber entregas.
Vendedores de uma marca com quatro lojas de móveis em São Paulo já foram avisados para não animar os clientes com as promessas de recebimento.
"Se hoje leva de 20 a 40 dias, a expectativa é alcançar 60 dias. A promoção de pronta-entrega, que seria de sete dias, já vai subir para dez", afirma Arnaldo Poroger, diretor da FormAtual, que leva mesas, sofás, estantes, cadeiras a 20 clientes por dia.

Trânsito noturno
A regra prevê que os caminhões, com algumas exceções, não possam circular numa área de 100 km2 das 5h às 21h.
Até a semana passada os de médio e grande porte já enfrentavam limitações das 10h às 20h numa área de 25 km2.
Mas, além da ampliação do trecho, incorporando bairros como Moema e Perdizes, desta vez os pequenos, de até 6,30 metros, também serão atingidos -nos primeiros meses, com um revezamento que deve tirar metade de circulação.
Com isso, para Kassab, 100 mil de um total de 210 mil caminhões deixarão de circular dentro de um mês. Para a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), um alívio na fluidez de 14% a 17%, similar ao da implantação do rodízio, em 1997.
O movimento mais intenso de caminhões à noite preocupa devido à escassez de agentes de trânsito para contornar os problemas nesse período -que já existem atualmente e que crescem com a nova demanda.
Há duas semanas, a Folha flagrou um caminhão com 20 metros de comprimento, às 22h, na contramão da rua Guaipá, na Vila Leopoldina.
Na última semana, na ponte Anhangüera da marginal Tietê, eram funcionários de uma empreiteira que improvisavam um desvio para os carros por conta de uma obra que provocava congestionamento de mais de um quilômetro às 23h.
Com a proibição da entrega diurna, os gargalos noturnos não devem se limitar às proximidades de bares e baladas.
"Às 21h, vai parecer um grid de largada da Fórmula 1", prevê Claudio Czapski, superintendente do ECR Brasil, que reúne 29 indústrias (como Coca-Cola) e nove varejistas (como Pão de Açúcar) para desenvolver soluções logísticas de cargas.
Emerson Kapaz, consultor do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), espera um "volume gigantesco de caminhões entre 21h e 22h" até por conta da lei do silêncio.


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