São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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Facção criminosa já fabrica ecstasy, aponta investigação

Droga foi achada em favela de SP; traficantes dizem que laboratório de produção está subordinado à facção

Apreensão mostra que o PCC está diversificando seus negócios e buscando novo público, diz sociólogo Mingardi

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

A aparência não é das melhores. Parece um comprimido antigo, meio tosco, lilás, do tamanho de uma jujuba. A novidade é o conteúdo.
Trata-se do primeiro comprimido de ecstasy cuja produção é atribuída a um laboratório da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), de acordo com a Polícia Civil de São Paulo.
"Não tem uma cara boa, tem uma aparência meio 25 de Março, meio Chinatown, mas é ecstasy", afirma a delegada Sueli Neute, do Denarc, o departamento de narcóticos da Polícia Civil, usando como referência a rua de São Paulo e o bairro de Nova York famosos pelos produtos de baixa qualidade vendidos.
Ela fez a apreensão dos 20 comprimidos numa favela perto do aeroporto de Congonhas, no dia 28 de maio.
Pílulas similares já haviam sido encontradas pela polícia com traficantes, diz a delegada. Mas após análise laboratorial constatava-se que não havia droga na pílula.

ESPECIALIZAÇÃO
Sintetizar ecstasy exige laboratório e um grau de conhecimento mais especializado do que o aplicado no refino de cocaína e crack, segundo o delegado Rodrigo Avelar, da Polícia Federal.
O lote cujo exame deu resultado positivo na análise do Instituto de Criminalística pode indicar que algum integrante da facção aprendeu a sintetizar a droga ou contratou alguém para essa tarefa.
A polícia já encontrou pelo menos três laboratórios de ecstasy em território nacional. Um deles em São Paulo, em 1990, outro em Pinhas (PR), em 2008, e um terceiro em Imaruí, no interior de Santa Catarina, em 2009.
Todos os laboratórios clandestinos tinham por trás um estudante universitário de química ou um técnico.
A diferença agora é que o centro de produção dos comprimidos está subordinado, de acordo com traficantes ouvidos pela polícia paulista, à principal facção criminosa do Estado.

MATÉRIA PRIMA
Se o processo de síntese do ecstasy é mais complexo, a matéria prima é mais fácil de ser achada. Diferentemente da cocaína, cuja pasta vem de países andinos, a principal matéria prima da droga, o safrol, existe no Brasil.
"Essa apreensão de ecstasy mostra que o PCC está se sofisticando, diversificando seus negócios e buscando novos públicos", diz o sociólogo Guaracy Mingardi, pesquisador do Fórum Nacional de Segurança Pública.
Até essa apreensão, o tráfico de ecstasy era praticamente uma exclusividade da classe média. Jovens bens nascidos iam buscar a droga na Europa e revendiam os comprimidos em clubes.
O ecstasy do PCC mostra que a organização resolveu contra-atacar o tráfico de classe média, tentando retomar o lucro que tinha antes dessa nova concorrência.
O preço da droga apreendida pelo departamento de narcóticos sugere que o ecstasy já cruzou a fronteira da classe média. Enquanto o comprimido importado é vendido por preços que variam de R$ 30 a R$ 50, o ecstasy do PCC vale R$ 20.
O lucro do produtor é espetacular. A produção de um comprimido custa R$ 0,50, segundo cálculo da PF feito no laboratório no Paraná.


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