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Facção criminosa já fabrica ecstasy, aponta investigação
Droga foi achada em favela de SP; traficantes dizem que laboratório de produção está subordinado à facção
Apreensão mostra que o PCC está diversificando seus negócios e buscando novo público, diz sociólogo Mingardi
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
A aparência não é das melhores. Parece um comprimido antigo, meio tosco, lilás,
do tamanho de uma jujuba.
A novidade é o conteúdo.
Trata-se do primeiro comprimido de ecstasy cuja produção é atribuída a um laboratório da facção criminosa
PCC (Primeiro Comando da
Capital), de acordo com a Polícia Civil de São Paulo.
"Não tem uma cara boa,
tem uma aparência meio 25
de Março, meio Chinatown,
mas é ecstasy", afirma a delegada Sueli Neute, do Denarc,
o departamento de narcóticos da Polícia Civil, usando
como referência a rua de São
Paulo e o bairro de Nova York
famosos pelos produtos de
baixa qualidade vendidos.
Ela fez a apreensão dos 20
comprimidos numa favela
perto do aeroporto de Congonhas, no dia 28 de maio.
Pílulas similares já haviam
sido encontradas pela polícia
com traficantes, diz a delegada. Mas após análise laboratorial constatava-se que não
havia droga na pílula.
ESPECIALIZAÇÃO
Sintetizar ecstasy exige laboratório e um grau de conhecimento mais especializado do que o aplicado no refino de cocaína e crack, segundo o delegado Rodrigo
Avelar, da Polícia Federal.
O lote cujo exame deu resultado positivo na análise
do Instituto de Criminalística
pode indicar que algum integrante da facção aprendeu a
sintetizar a droga ou contratou alguém para essa tarefa.
A polícia já encontrou pelo
menos três laboratórios de
ecstasy em território nacional. Um deles em São Paulo,
em 1990, outro em Pinhas
(PR), em 2008, e um terceiro
em Imaruí, no interior de
Santa Catarina, em 2009.
Todos os laboratórios
clandestinos tinham por trás
um estudante universitário
de química ou um técnico.
A diferença agora é que o
centro de produção dos comprimidos está subordinado,
de acordo com traficantes
ouvidos pela polícia paulista, à principal facção criminosa do Estado.
MATÉRIA PRIMA
Se o processo de síntese do
ecstasy é mais complexo, a
matéria prima é mais fácil de
ser achada. Diferentemente
da cocaína, cuja pasta vem
de países andinos, a principal matéria prima da droga, o
safrol, existe no Brasil.
"Essa apreensão de ecstasy mostra que o PCC está se
sofisticando, diversificando
seus negócios e buscando
novos públicos", diz o sociólogo Guaracy Mingardi, pesquisador do Fórum Nacional
de Segurança Pública.
Até essa apreensão, o tráfico de ecstasy era praticamente uma exclusividade da classe média. Jovens bens nascidos iam buscar a droga na
Europa e revendiam os comprimidos em clubes.
O ecstasy do PCC mostra
que a organização resolveu
contra-atacar o tráfico de
classe média, tentando retomar o lucro que tinha antes
dessa nova concorrência.
O preço da droga apreendida pelo departamento de
narcóticos sugere que o ecstasy já cruzou a fronteira da
classe média. Enquanto o
comprimido importado é
vendido por preços que variam de R$ 30 a R$ 50, o ecstasy do PCC vale R$ 20.
O lucro do produtor é espetacular. A produção de um
comprimido custa R$ 0,50,
segundo cálculo da PF feito
no laboratório no Paraná.
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