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Para FAB, fabricante devia ter mudado seu manual
Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa, prevê uma "guerra dos grandes"
Choque em Congonhas foi o
terceiro acidente com jatos
Airbus que tiveram origem
na mesma falha mecânica:
um dos reversos pinados
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa (Centro
Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), disse ontem à Folha que
o acidente com o vôo 3054 da
TAM vai provocar uma "guerra
dos grandes", pois esse é o terceiro acidente com jatos Airbus
que tiveram origem na mesma
falha mecânica: o reverso pinado, ou seja, bloqueado.
"O fabricante [Airbus] já deveria ter tomado providências
para evitar novas ocorrências
desse tipo", disse Kersul, cauteloso e insistindo em dizer
que acidentes aéreos são sempre um somatório de fatores,
em geral humanos, mecânicos
e operacionais.
Houve acidentes com aeronaves da Airbus nas Filipinas,
em 1998, e em Taiwan, em
2004, sem que houvesse nenhuma mudança nos manuais
dos aviões nem nas orientações
elaboradas pelo fabricante para
os pilotos e mecânicos.
Nesses dois acidentes, um
dos reversos da aeronave estava travado -mesma situação
do avião acidentado no último
dia 17 em São Paulo- e os manetes que dão potência às turbinas, em posição errada.
Tudo indica que ocorreu a
mesma conjugação de fatores
também com o TAM 3054 em
Congonhas. A diferença é que
no caso brasileiro não houve
nenhum sobrevivente, ao contrário dos anteriores.
Fator inicial
Kersul foi enfático ao dizer
que ainda não há conclusões,
mas disse que, na sua opinião,
foi essa falha mecânica original
que deflagrou os demais fatores
que contribuíram para o acidente, principalmente um provável erro dos pilotos ao manipular os manetes, alavancas
que aumentam ou reduzem a
potência de cada turbina, como
um acelerador de carros.
Segundo ele, é bastante possível que os pilotos tenham se
atrapalhado na hora de operar
o jato durante o pouso em Congonhas, mas a falha original foi
do reverso do Airbus.
Os procedimentos adotados
provavelmente estariam adequados para o caso de os reversos do avião estarem funcionando normalmente, mas não para o caso de haver problemas
com eles -e havia, como a própria TAM já admitiu.
Os reversos são equipamentos usados para ajudar a frenagem durante o pouso. No caso
do Airbus A-320, um deles estava bloqueado e, se os manetes
foram acionados igualmente,
podem ter produzido um efeito
inverso: o reverso que estava
funcionando foi acionado para
frear, enquanto o outro (que estava bloqueado), para acelerar.
Isso pode justificar por que o
avião fez um inexplicável giro à
esquerda depois do pouso, enquanto continuava em alta velocidade até bater no prédio da
TAM Express a 175 km/h e explodir, após atravessar a avenida Washington Luís.
As últimas falas ouvidas na
cabine são "vira, vira, vira", como se um piloto gritasse para o
outro para tentar seguir reto e
este não conseguisse controlar
a aeronave.
Manuais
Pelos manuais da Airbus, o
A-320 poderia voar até dez dias
mesmo apresentando problemas com um dos reversos.
Mas, se já tinha havido dois
precedentes de acidentes com
origem no reverso pinado, o fabricante deveria ter revisto essa norma, além de ter tomado
outras medidas para evitar que
acidentes se repetissem.
Só depois do acidente em São
Paulo com 199 mortes e do início da análise da caixa-preta
contendo os dados do vôo, nos
EUA, é que a Airbus emitiu um
comunicado reforçando os procedimentos corretos para o caso de haver problemas no reverso da aeronave.
Na última terça, ao ser questionada sobre esse comunicado
em que pede o "estrito cumprimento" de dois procedimentos
de pouso, a Airbus não quis
confirmar ligação com o acidente brasileiro.
"Não cabe à Airbus fazer
qualquer comentário sobre o
que os dados preliminares demonstram. Neste caso, isso cabe à comissão de investigação
brasileira", disse Barbara
Kracht, vice-presidente do setor de mídia da Airbus.
A emissão do comunicado está sendo interpretada nos
meios aeronáuticos brasileiros
como uma forma de reconhecer que o erro original estava no
reverso travado, seguido de má
operação dos pilotos.
Esses fatores vieram a se somar às circunstâncias negativas: chovia no dia do acidente, o
piso estava escorregadio e a pista, com 1.940 metros, é curta e
sem área de escape.
Com um dos reversos travado, seguido por erro na operação dos manetes, os pilotos não
tiveram tempo nem margem de
manobra para sair da situação.
Em Taiwan e nas Filipinas, as
pistas eram maiores e os aviões
não se chocaram em prédios vizinhos aos aeroportos. Isso fez
toda a diferença.
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