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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO
Avião da TAM tinha "sobra" de combustível
Para economizar, companhias aéreas adotam estratégia de abastecer mais onde imposto é menor; SP tem maior alíquota
Para especialistas, excesso de peso é um adicional de risco desnecessário, já que torna mais delicadas as condições de pouso
ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O Airbus-A320 da TAM que
se acidentou no último dia 17
em Congonhas voava com uma
quantidade de combustível
bem superior à necessária para
ir de Porto Alegre a São Paulo
-fato que potencializou as
conseqüências da explosão e do
incêndio depois da batida.
O excesso de querosene armazenado não descumpria nenhuma norma da aviação, mas
reflete uma prática comum das
companhias aéreas do país e
que tem sido vista como um
adicional de risco desnecessário por uma parte dos especialistas em segurança de vôo.
Os Estados cobram alíquotas
diferenciadas de ICMS do querosene dos jatos. No Rio Grande do Sul, ela é de 17%, contra
25% em São Paulo, 3% em Minas e 4% no Rio de Janeiro.
Para economizar, as empresas adotam estratégias de abastecimento nem sempre de
acordo com a necessidade do
trajeto, mas conforme os preços mais baixos.
A tendência, portanto, é,
muitas vezes, pousar em São
Paulo com a quantidade máxima possível de combustível
-para que não se pague uma
alíquota mais alta no Estado.
E quanto mais pesado está
um avião, mais delicado é seu
pouso, maior é a importância
de seu sistema de frenagem e
da dimensão da pista -que, em
Congonhas, se limita a 1,94 km,
uma das menores entre os
principais aeroportos do Brasil.
Não é à toa que uma das novas restrições discutidas para
Congonhas abrange um limite
menor de peso dos aviões.
A TAM diz que seu Airbus
que se envolveu no acidente de
Congonhas havia decolado de
Porto Alegre com 9,2 toneladas
de combustível. Um mecânico
que inspecionou a aeronave
minutos antes no aeroporto local estima que a quantidade estava próxima de 12 toneladas.
Independentemente de qual
das duas versões seja a correta,
havia querosene mais do que
suficiente para a viagem, já
consideradas as margens de segurança obrigatórias na hipótese de eventuais imprevistos.
Os cálculos de consumo do
A320 indicam que ele não gastaria mais do que quatro toneladas no trajeto. Ou seja, a colisão se deu com uma quantidade
de combustível superior a pelo
menos cinco toneladas.
Até para assegurar uma autonomia de vôo no caso de imprevistos, os jatos sempre devem
decolar com uma sobra de querosene. Ele deve abranger, segundo Raúl Francé, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Católica de Goiás, um adicional de
10% do cálculo de consumo,
outro de 30 minutos de navegação e ainda uma quantidade suficiente para se deslocar para
outro aeroporto mais próximo.
Mesmo assim, havia um excesso no Airbus-A320 da TAM
de, no mínimo, três toneladas.
O peso total do avião no dia
do acidente (incluindo passageiros, bagagem, fuselagem)
atingia 62,7 toneladas, segundo
a própria TAM, muito próximo
do limite de segurança de 64,5
toneladas para pousos.
A condição reforçava a importância da frenagem da aeronave no momento do pouso.
Economia
Um executivo do setor aéreo
diz que só a TAM já conseguiu
economizar R$ 30 milhões em
um ano com a programação de
compra do combustível.
Mas a prática, segundo Respicio do Espírito Santo Júnior,
professor de Transporte Aéreo
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é freqüente pelo mundo inteiro.
"Se pudesse, nunca abasteceria em São Paulo. Mas nem
sempre isso é possível", afirma.
Fernando Catalano, professor da USP em São Carlos, reprova, sob a ótica da segurança,
a estratégia de voar com combustível desnecessário. "É prudente ser conservador. O ideal
é que a quantidade de combustível fosse determinada pelo
trajeto, e não pela economia."
Opinião semelhante tem
Raúl Francé. "O peso maior pode atrapalhar a operação, principalmente no procedimento
de aproximação da pista", diz.
George Ermakoff, consultor
e ex-presidente do Snea (Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias), diz que os custos
com combustível da aviação
chegam a representar de 30% a
40% das despesas totais.
Ele acrescenta que os cálculos de abastecimento não levam em conta só a alíquota do
ICMS, mas outros fatores -e
quanto mais pesada, mais combustível a aeronave também
tenderá a consumir.
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