São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Acidente desvaloriza imóveis na rota aérea

Corretores não conseguem sequer marcar visitas no trecho de tráfego de aviões para o aeroporto de Congonhas (zona sul)

Consultores imobiliários dizem que pior já passou e que vizinhança deverá ser revalorizada com redução de tráfego na ponta aérea

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Está na rota dos aviões?" é a pergunta mais ouvida pelo gerente da imobiliária Moema Imóveis, Carlos Muniz, quando sugere imóveis no Campo Belo e em Moema a seus clientes. Se estão, apartamentos e casas são descartados imediatamente.
O acidente de 17 de julho só acelerou uma tendência de desvalorização na vizinhança do aeroporto de Congonhas, na zona sul. E ainda deve levar meses para passar o trauma do candidato a comprar ou alugar imóveis na região.
Diversas imobiliárias ouvidas pela reportagem da Folha confirmam que a região já sofria pelo excesso de movimento no aeroporto, que se traduz em barulho de decolagens ao longo do dia e de trânsito pesado nos arredores.
Alguns consultores, porém, dizem que, dada a gravidade da tragédia, as promessas para desafogar a região de Congonhas deverão, finalmente, sair do papel. Se isso acontecer, os imóveis da região poderão se revalorizar rapidamente.
Por ora, o efeito psicológico é imediato. "Só dá para fechar negócio se o preço é muito bom", analisa Muniz. "Por culpa de quatro ou cinco quarteirões, dentro da rota, o imóvel pode valer até 20% menos."
Ele conta que há uma migração de clientes para bairros como Itaim, Vila Nova Conceição, Vila Mariana e áreas de Moema que estão fora da rota de tráfego aéreo.
Apesar do mercado imobiliário paulistano estar aquecido, há vários casos de apartamentos de R$ 250 mil que estão sendo vendidos a R$ 200 mil. Com valores superiores, tendem a encalhar. "Os proprietários ficam mais flexíveis, aceitam baixar os preços."
Ruas como Miruna, Moacir, Pavão e parte da Fiandeiras são afetadas, diz o corretor Carlos Varoli, da M2 Imobiliária. "Quando falo a rua ou o comprador sabe que fica na rota, não cogitam nem em visitar."
"Até cinco anos atrás, Congonhas fechava às 23h, não havia tanto vôo." No Jardim Aeroporto, casas em bom estado acumulam placas de imobiliárias diferentes e acabam se tornando "micos" residenciais. Os corretores afirmam que só o miolo dos bairros de Moema e Campo Belo, fora da rota, ainda estão a salvo da rejeição.
Entre os otimistas, há confiança de que medidas para evitar novas tragédias estão realmente a caminho.
"Do jeito que estava é que a região se desvalorizou. Com a diminuição do movimento em Congonhas, a região tende a voltar a ser atraente", diz o diretor de lançamentos do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais), Fábio Rossi Filho, que também dirige a Itaplan Imóveis.
"Se, de 600 vôos diários, passar para 150, os bairros vizinhos terão menos barulho, menos trânsito e continuam muito bem localizados."
O diretor da Secovi faz uma comparação com a região que rodeia a área do acidente da nova linha do Metrô, em Pinheiros. Lá, segundo ele, nos meses após a tragédia alguns proprietários quiseram vender por preços inferiores ao que valem, por um efeito psicológico. Hoje, os imóveis na área voltam a se valorizar. "Se você tem imóvel em Moema, não venda agora", recomenda Rossi Filho.
Quem concorda com ele é o auditor de investimentos Bernd Rieger, especialista em mercado imobiliário. "A conversa do corretor já é melhor hoje que há um mês. Ele pode dizer que tudo será feito para que a tragédia não se repita, que o máximo da saturação do aeroporto já passou e que agora só tende a se reduzir".
Para Celso Amaral, da consultoria imobiliária Amaral Dávila, a desvalorização é pontual, "durará apenas alguns meses, desde que não se cometam mais bobagens no setor aéreo". Ao contrário dos preços dos prédios sob a rota, o pensamento positivo do mercado imobiliário está em alta.


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