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Acidente desvaloriza imóveis na rota aérea
Corretores não conseguem sequer marcar visitas no trecho de tráfego de aviões para o aeroporto de Congonhas (zona sul)
Consultores imobiliários dizem que pior já passou e que vizinhança deverá ser revalorizada com redução de tráfego na ponta aérea
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Está na rota dos aviões?" é a
pergunta mais ouvida pelo gerente da imobiliária Moema
Imóveis, Carlos Muniz, quando
sugere imóveis no Campo Belo
e em Moema a seus clientes. Se
estão, apartamentos e casas são
descartados imediatamente.
O acidente de 17 de julho só
acelerou uma tendência de desvalorização na vizinhança do
aeroporto de Congonhas, na
zona sul. E ainda deve levar meses para passar o trauma do
candidato a comprar ou alugar
imóveis na região.
Diversas imobiliárias ouvidas pela reportagem da Folha
confirmam que a região já sofria pelo excesso de movimento no aeroporto, que se traduz
em barulho de decolagens ao
longo do dia e de trânsito pesado nos arredores.
Alguns consultores, porém,
dizem que, dada a gravidade da
tragédia, as promessas para desafogar a região de Congonhas
deverão, finalmente, sair do papel. Se isso acontecer, os imóveis da região poderão se revalorizar rapidamente.
Por ora, o efeito psicológico é
imediato. "Só dá para fechar
negócio se o preço é muito
bom", analisa Muniz. "Por culpa de quatro ou cinco quarteirões, dentro da rota, o imóvel
pode valer até 20% menos."
Ele conta que há uma migração de clientes para bairros como Itaim, Vila Nova Conceição, Vila Mariana e áreas de
Moema que estão fora da rota
de tráfego aéreo.
Apesar do mercado imobiliário paulistano estar aquecido,
há vários casos de apartamentos de R$ 250 mil que estão
sendo vendidos a R$ 200 mil.
Com valores superiores, tendem a encalhar. "Os proprietários ficam mais flexíveis, aceitam baixar os preços."
Ruas como Miruna, Moacir,
Pavão e parte da Fiandeiras são
afetadas, diz o corretor Carlos
Varoli, da M2 Imobiliária.
"Quando falo a rua ou o comprador sabe que fica na rota,
não cogitam nem em visitar."
"Até cinco anos atrás, Congonhas fechava às 23h, não havia tanto vôo." No Jardim Aeroporto, casas em bom estado
acumulam placas de imobiliárias diferentes e acabam se tornando "micos" residenciais. Os
corretores afirmam que só o
miolo dos bairros de Moema e
Campo Belo, fora da rota, ainda
estão a salvo da rejeição.
Entre os otimistas, há confiança de que medidas para evitar novas tragédias estão realmente a caminho.
"Do jeito que estava é que a
região se desvalorizou. Com a
diminuição do movimento em
Congonhas, a região tende a
voltar a ser atraente", diz o diretor de lançamentos do Secovi
(Sindicato das Empresas de
Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais), Fábio
Rossi Filho, que também dirige
a Itaplan Imóveis.
"Se, de 600 vôos diários, passar para 150, os bairros vizinhos terão menos barulho, menos trânsito e continuam muito bem localizados."
O diretor da Secovi faz uma
comparação com a região que
rodeia a área do acidente da
nova linha do Metrô, em Pinheiros. Lá, segundo ele, nos
meses após a tragédia alguns
proprietários quiseram vender
por preços inferiores ao que valem, por um efeito psicológico.
Hoje, os imóveis na área voltam a se valorizar. "Se você tem
imóvel em Moema, não venda
agora", recomenda Rossi Filho.
Quem concorda com ele é o
auditor de investimentos
Bernd Rieger, especialista em
mercado imobiliário. "A conversa do corretor já é melhor
hoje que há um mês. Ele pode
dizer que tudo será feito para
que a tragédia não se repita,
que o máximo da saturação do
aeroporto já passou e que agora
só tende a se reduzir".
Para Celso Amaral, da consultoria imobiliária Amaral Dávila, a desvalorização é pontual,
"durará apenas alguns meses,
desde que não se cometam
mais bobagens no setor aéreo".
Ao contrário dos preços dos
prédios sob a rota, o pensamento positivo do mercado
imobiliário está em alta.
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