São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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Arquiteto Joaquim Guedes morre atropelado

De acordo com testemunhas, motorista dirigia uma Pajero prata em alta velocidade e fugiu sem prestar socorro

Guedes, que era professor aposentado da USP, deixa cinco filhos e sete netos; enterro será às 17h de hoje, no cemitério do Araçá


ESTÊVÃO BERTONI
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu por volta das 20h de anteontem o arquiteto e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Joaquim Manoel Guedes Sobrinho, aos 76 anos, vítima de um atropelamento na avenida Nove de Julho, onde morava, na zona oeste.
Segundo testemunhas, foi atingido por uma Pajero prata em alta velocidade, que fugiu. A placa não foi anotada.
Ele teria atravessado a via fora da faixa de pedestres, conforme testemunhas. No boletim de ocorrência, PMs que o atenderam relataram que ele atravessou provavelmente na faixa. Imagens da câmeras de vigilância em frente a um prédio próximo serão analisadas para tentar identificar o carro.
Guedes era presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de São Paulo, cargo que assumiu em janeiro deste ano após uma disputa jurídica com oposicionistas, que contestaram o resultado da eleição.
Com ordem judicial, a sede do órgão foi arrombada para que pudesse tomar posse. O arquiteto, porém, estava licenciado do cargo para concorrer à Câmara Municipal pelo PPS.
"Ele achava que, só por meio de uma ação política direta, poderia alcançar alguma transformação no Brasil", diz o arquiteto Roberto Loeb. "A arquitetura perde um combatente." "A grande defesa que ele tinha era a questão das licitações públicas, que fossem claras e dessem oportunidade de trabalho a todos os arquitetos", disse Anne Marie Sumner, arquiteta ligada ao IAB, que trabalhou com Guedes. "Ele abriu caminho em várias direções."
Autor de mais de 500 projetos, Guedes planejou várias cidades, como Caraíba (BA), Carajás (PA), Marabá (PA) e Barcarena (PA). Também projetou a casa na rua Grécia onde a ex-prefeita Marta Suplicy viveu com o então marido, senador Eduardo Suplicy (PT).
Formado em arquitetura pela USP em 1954, doutorou-se em 1972 em planejamento urbano pela mesma universidade, onde, anos mais tarde, ocuparia a cadeira de professor titular da FAU. Aposentou-se no cargo.

Polêmico
Sempre lembrado como briguento, colérico e emotivo, Guedes chegou até a se desentender com Oscar Niemeyer, com quem disputou o concurso para a construção de Brasília.
Apesar de admirar a obra do arquiteto, era contra a concentração de projetos públicos nas mãos de um único profissional.
Foi, aliás, por causa de outra briga que Guedes nunca construiu um prédio em São Paulo, motivo de "grande tristeza" para ele, segundo Sumner. Ele construiria a sede do Banespa na praça da República, projeto que, após desentendimento, foi repassado a Carlos Bratke.
"Na dúvida, optava sempre pela polêmica", brinca o neto Bruno. Era demolidor em suas críticas, impetuoso, como lembra a família. Defendia suas fortes opiniões mesmo com o passar dos anos. "Ele se sentia como se tivesse 30 anos. Morreu precoce mesmo aos 76."
Na reforma do teatro da PUC, invadido e incendiado durante a ditadura, Guedes optou por manter as marcas das chamas nas paredes do prédio. "Ele achava que aquilo era um patrimônio da história, não queria apagar as marcas de uma época e incorporou a lembrança ao espaço", lembra Loeb.
Sua concepção de arquitetura priorizava a funcionalidade e o uso dos espaços, mas em oposição clara ao modernismo brasileiro, seguindo o arquiteto finlandês Alvar Aalto. "Ele foi um dos maiores urbanistas brasileiros, um homem que sabe projetar e conceber a cidade", diz Miguel Alves Pereira, que foi sócio e amigo de Guedes.
O enterro será às 17h de hoje, no cemitério do Araçá. Guedes deixa cinco filhos e sete netos.


Colaborou KLEBER TOMAZ , da Reportagem Local


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