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Especialistas debatem relação entre acidentes e álcool
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
No Brasil há cerca de 31 mil
mortes em acidentes de trânsito
por ano. São 19 mortos por 100
mil habitantes/ano, três vezes
mais que em países europeus.
Na França, em 20% dos acidentes com vítimas fatais o motorista
tinha bebido acima do limite. Na
Dinamarca, são 8%. No Hospital
da Restauração do Recife, a principal porta de entrada das lesões
graves da região metropolitana,
70% dos feridos no trânsito, causadores ou vítimas do acidente,
estavam alcoolizados.
Especialistas acreditam que em
diferentes regiões do país esse número oscile de 30% a 60%. A primeira constatação é que faltam
pesquisas e informações no Brasil
sobre o assunto. Apenas agora o
Ministério da Saúde está começando a implantar o Sisav, um sistema que torna obrigatório a notificação dos acidentes e violência.
Ainda assim, o formulário não
prevê informações sobre o nível
de álcool no sangue.
O país ainda não sabe nada sobre a segunda causa de óbito dentro das mortes violentas, que são
os acidentes de trânsito -a primeira é o homicídio.
A gravidade da situação e a falta
de pesquisas na relação entre bebida e direção foram temas ontem
da 1ª Conferência Internacional
sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, que acontece em
Recife.
Os pesquisadores destacaram a
relação direta entre álcool e acidente e, mais especialmente, a relação entre medidas preventivas
de redução de danos e a queda no
número de vítimas do trânsito.
A tese dos especialistas -20 estrangeiros e cerca de 80 do Brasil- segue o princípio que norteia a conferência, o de que é mais
importante e realista reduzir os
danos da bebida do que impedir
que as pessoas bebam.
Robin Room, do Centro para
Pesquisa Social em Álcool e Drogas da Suécia, é dos maiores conhecedores das práticas de redução de riscos na relação bebida e
direção. Ele defende mudanças
que começam pelo ambiente de
trânsito, como a retirada de árvores e postes de locais com maior
ocorrência de acidentes.
Equipamentos de segurança como cinto e airbags, que protegem
todos no carro, são ainda mais necessários para os alcoolizados, na
direção ou fora dela. Vários estudos mostram que vítimas alcoolizadas sofrem mais fraturas e ferimentos mais graves.
Room também relaciona os acidentes de trânsito ao transporte
coletivo. Onde há ônibus e metrô
disponíveis à noite, há menos motoristas alcoolizados dirigindo.
Na relação dos fatores que reduzem a equação álcool-direção-acidentes, Room cita a lei, desde
que a punição seja aplicável, rápida, e o infrator tenha a certeza de
que será punido. Cita também a
fiscalização e orientação com o
uso de bafômetros, que na Nova
Zelândia diminuiu muito o número de acidentes. Cita também a
responsabilidade dos donos de
bares e restaurantes. Em alguns
países, eles perdem a licença se
venderem bebida a menores ou a
quem já está alcoolizado. A vigilância de amigos e da mulher ou
namorada, que impede alguém
alcoolizado de dirigir, é outra forma de reduzir os riscos.
O repórter Aureliano Biancarelli viajou a
convite da 1ª Conferência Internacional
sobre Consumo de Álcool e Redução de
Danos
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