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ANÁLISE
No país, progressão de gripe tem padrão duplo
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Para efeitos de gripe, o Brasil
são pelo menos dois países.
Justifica-se, portanto, a prudência da OMS em suspender o
juízo acerca da progressão do
novo vírus H1N1 por aqui.
Embora já não haja dúvida de
que os Estados do Sul mais São
Paulo e Rio de Janeiro deixaram o pico pandêmico para
trás, a situação das demais unidades permanece incerta.
Pelo que se observou no
mundo até agora, o novo vírus
acompanha os padrões de circulação da gripe comum. O problema é justamente que, no
Brasil, esses padrões variam
muito de acordo com a latitude.
No Sul, no Sudeste e em parte
do Centro-Oeste, o comportamento do vírus se assemelha ao
verificado em países temperados, onde a sazonalidade da
doença é bem marcada -com
forte crescimento do número
de casos no outono e descenso a
partir do fim da estação fria.
A norte do paralelo 15ºS, porém, o vírus perambula de modo mais ou menos uniforme ao
longo de todo o ano, como é típico em zonas de clima tropical. O máximo que se observa
são oscilações anuais associadas aos períodos chuvosos.
As razões para tais variações
não são bem conhecidas. As
condições climáticas afetam a
sazonalidade da gripe, mas não
há consenso acerca dos mecanismos pelos quais elas atuam.
Há autores que privilegiam o
impacto direto da temperatura
e da umidade na sobrevivência
do vírus, eficiência da transmissão e suscetibilidade das
pessoas a contrair infecções.
Outros preferem apostar no
efeito indireto do clima sobre
mudanças comportamentais,
como a maior permanência das
pessoas em ambientes fechados durante o inverno. Não se
pode excluir uma combinação
das vias diretas e indiretas.
Outra interessante peculiaridade da gripe no Brasil diz respeito à forma de disseminação.
Trabalho de Wladimir Alonso e
outros publicado no "American
Journal of Epidemiology" em
2007 mostra que a influenza
sazonal se transmite aqui num
intrigante padrão de ondas que
viajam do norte para o sul, isto
é, das regiões menos densamente povoadas para as mais.
À exceção da nova H1N1, que
foi importada pelo sul, por aqui,
condições climáticas diretas
ainda parecem desempenhar
um papel mais importante do
que fatores indiretos como
aglomerações e viagens.
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