São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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ANÁLISE

No país, progressão de gripe tem padrão duplo

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Para efeitos de gripe, o Brasil são pelo menos dois países. Justifica-se, portanto, a prudência da OMS em suspender o juízo acerca da progressão do novo vírus H1N1 por aqui.
Embora já não haja dúvida de que os Estados do Sul mais São Paulo e Rio de Janeiro deixaram o pico pandêmico para trás, a situação das demais unidades permanece incerta.
Pelo que se observou no mundo até agora, o novo vírus acompanha os padrões de circulação da gripe comum. O problema é justamente que, no Brasil, esses padrões variam muito de acordo com a latitude.
No Sul, no Sudeste e em parte do Centro-Oeste, o comportamento do vírus se assemelha ao verificado em países temperados, onde a sazonalidade da doença é bem marcada -com forte crescimento do número de casos no outono e descenso a partir do fim da estação fria.
A norte do paralelo 15ºS, porém, o vírus perambula de modo mais ou menos uniforme ao longo de todo o ano, como é típico em zonas de clima tropical. O máximo que se observa são oscilações anuais associadas aos períodos chuvosos.
As razões para tais variações não são bem conhecidas. As condições climáticas afetam a sazonalidade da gripe, mas não há consenso acerca dos mecanismos pelos quais elas atuam.
Há autores que privilegiam o impacto direto da temperatura e da umidade na sobrevivência do vírus, eficiência da transmissão e suscetibilidade das pessoas a contrair infecções. Outros preferem apostar no efeito indireto do clima sobre mudanças comportamentais, como a maior permanência das pessoas em ambientes fechados durante o inverno. Não se pode excluir uma combinação das vias diretas e indiretas.
Outra interessante peculiaridade da gripe no Brasil diz respeito à forma de disseminação. Trabalho de Wladimir Alonso e outros publicado no "American Journal of Epidemiology" em 2007 mostra que a influenza sazonal se transmite aqui num intrigante padrão de ondas que viajam do norte para o sul, isto é, das regiões menos densamente povoadas para as mais.
À exceção da nova H1N1, que foi importada pelo sul, por aqui, condições climáticas diretas ainda parecem desempenhar um papel mais importante do que fatores indiretos como aglomerações e viagens.


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