São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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DEPOIMENTO

A dependência do carro e a dependência do cigarro

CONRADO CORSALETTE
EDITOR-ASSISTENTE DE COTIDIANO

Chegar a São Paulo trazendo na bagagem um prontuário médico que aponta bronquite crônica somado ao vício do cigarro foi como levar um murro no peito já castigado há tempos pela falta de ar.
Lá no ano de 1996, alguns testes com o rodízio já indicavam que, sim, era perfeitamente possível deixar o carro em casa uma vez por semana em troca de uma leve melhora na qualidade de vida.
Nessa década e meia tive de me adaptar ao humor climático da grande metrópole.
Inalar cortisona todo o dia, frequentar hospital vez ou outra e evitar abrir o segundo maço foram remediações inevitáveis. Uma mudança de hábito inusitada, porém, me faz muito mais bem.
Dois anos atrás, meu carro sumiu da rua onde eu o estacionava. Decidi ficar sem.
Tive orgulho de dizer que não colaborava com o caos do trânsito. E que a fumaça dos meus cigarros, praticamente banidos dos locais públicos um ano depois, era nada perto do dano ambiental de um veículo em circulação.
Apesar de certo conforto ideológico, eu tenho certeza de que uma hora dessas vou ser obrigado a tomar uma decisão radical para continuar vivo (é o fumo, estúpido!).
A cidade é mais tolerante que meu corpo e meus ideais. Vem aguentando os milhões de carros novos jogados na rua a cada ano. Vem aguentando a falta de mobilidade e o excesso de gás carbônico.
Só me pergunto daqui, deste sufoco particular: até quando um umidificador no quarto e um vidro preto fechado sobre quatro rodas que transportam quase sempre uma só pessoa serão suficientes para remediar essa loucura asmática coletiva?


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