São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2001

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GREVE NAS FEDERAIS

Tentativa de ministério é enfraquecer paralisação de docentes; quem voltar ao trabalho recebe salário

MEC tenta fechar acordo com servidor na 2ª

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dentro da estratégia de tentar acabar com as greves nas universidades federais, o Ministério da Educação pretende fechar um acordo com os servidores apenas na próxima segunda-feira. Caso aceitem voltar ao trabalho, receberão o salário de setembro e deixarão enfraquecida a paralisação dos professores.
O ministério acelerou ontem as negociações com os servidores e ofereceu a incorporação das gratificações aos salários. Terão até a próxima segunda-feira, quando o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, se reúne com a Fasubra (Sindicato das Associações dos Servidores das Universidades Brasileiras) para negociar a via legal do acordo com a Casa Civil.
Para Agnaldo Fernandes, diretor da Fasubra, a estratégia do ministério não terá êxito. "Vamos suspender as negociações caso se confirme a suspensão do pagamento [do salário"."
Anteontem, o ministro anunciou, em reunião com os reitores, que os servidores públicos e os professores das universidades federais, em greve há mais de um mês, não irão receber o salário de setembro. O Ministério da Educação gasta R$ 360 milhões mensais com as despesas de pessoal.
Ambos os sindicatos garantem que a retenção do salário de setembro de servidores e professores -classificada como "chantagem" e "coação"-fará com que a adesão à greve seja total.
"A suspensão dos salários não vai esvaziar a greve. Só penaliza os filhos dos trabalhadores", disse Roberto Leher, presidente da Andes (Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior). De acordo com ele, os reitores não irão pagar os funcionários que não aderiram à greve.
"Se apostarem nessa estratégia para enfraquecer o movimento, vão cair do cavalo", disse Fernandes. Cerca de 95% dos 47.511 professores universitários estão parados desde o mês de agosto, de acordo com a Andes. Funcionários de 48 universidades federais estão parados desde julho.
Eles reivindicam um reajuste de 75,48%, a incorporação das gratificações no salário e a abertura de novo concurso público -o MEC já autorizou a contratação de 2.000 professores.
Paulo Renato exige que o semestre letivo não seja perdido e que o calendário do vestibular seja mantido. O ministro já propôs um sistema de previdência complementar para as novas contratações, a fim de manter o regime jurídico único, outra reivindicação dos grevistas.

Liminar
A Justiça Federal não concedeu o pedido de liminar dos sindicatos para garantir o pagamento do salário, instrumento com o qual contavam para forçar as negociações com Paulo Renato.
O juiz José Pires da Cunha solicitou anteontem prazo para colher informações. Com isso é improvável que os grevistas consigam uma decisão até esta terça.
De acordo com Leher, caso a liminar seja negada, os sindicatos ou os reitores devem apresentar novos pedidos na Justiça Federal de cada Estado. Na greve do ano passado, que durou mais de três meses, o governo não conseguiu suspender os salários.
Na terça-feira, professores e servidores farão uma vigília em frente ao MEC. Na quarta-feira, se juntam a cerca de 15 mil pessoas para a Marcha Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, organizada pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).


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