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MÍDIA
Resolução do Conselho Federal de Medicina estabelece que profissionais exijam apresentação prévia de textos de reportagens
Médicos são obrigados a aprovar entrevistas
MAURÍCIO TUFFANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os médicos agora estão obrigados a exigir dos jornalistas que
apresentem os textos de suas entrevistas antes de elas serem publicadas. É o que estabelece uma
resolução baixada pelo CFM
(Conselho Federal de Medicina).
Advogados divergem ao opinar
se a norma traz ou não cerceamento à liberdade de imprensa.
Ao exigir de um repórter que ele
apresente o texto de uma entrevista antes de publicá-lo, um médico pode promover um cerceamento com efeitos semelhantes
ao da censura prévia, afirmou a
advogada Odete Medauar, professora titular da Faculdade de Direito da USP (Universidade de
São Paulo). Segundo ela, a exigência também cria obstáculos ao
trabalho jornalístico, que muitas
vezes exige rapidez na apuração.
"Existe a possibilidade de distorções entre o que é declarado e o
que é publicado, mas não se deve
legislar com base em exceções.
Além disso, o profissional e o veículo de imprensa podem ser responsabilizados se causarem qualquer prejuízo", disse a professora.
O artigo 5º da Constituição Federal estabelece que "é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".
Para Fábio Konder Comparato,
que também é professor titular da
Faculdade de Direito da USP, a
exigência é justificada, na medida
em que os jornalistas podem cometer erros na simplificação do
que é explicado pelos entrevistados, não só no campo da medicina. "Censura prévia seria se o Poder Público interviesse para impedir a publicação da matéria",
sustenta o advogado.
Constrangimento
Publicada no "Diário Oficial da
União" na última quinta-feira, a
nova resolução do Conselho Federal de Medicina, também estabelece normas para a propaganda
no âmbito da medicina e prevê a
abertura de processos internos
contra médicos nos casos considerados como infrações.
Médicos ouvidos pela Folha
-que preferiram não se identificar depois de saberem do novo regulamento- afirmaram que a resolução fará, na prática, com que
eles sejam obrigados a impor, antes da entrevista, a exigência de
revisão dos textos, trazendo embaraços para a divulgação de pesquisas médicas que tenham conteúdo polêmico.
O Código de Ética Médica proíbe "divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou
descoberta cujo valor ainda não
esteja expressamente reconhecido por órgão competente".
"É evidente que essa exigência
pode causar constrangimento e é
ruim para o interesse público",
afirmou o jornalista Cláudio Weber Abramo, secretário-geral da
entidade Transparência Brasil e
conselheiro da Transparência Internacional.
"Isso é típico de uma corporação cuja disponibilidade para esclarecimento do público é, no mínimo, reduzida", disse.
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