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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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URBANISMO

Projeto, orçado em cerca de R$ 1 milhão, depende de autorização do Iphan e de patrocínio

Sé quer abrir cúpula à visitação pública

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos segredos mais bem guardados da catedral da Sé -e um de seus conjuntos mais bonitos- vai ser aberto ao público. A cúpula externa da igreja, a 43 metros do chão, fará parte de um circuito de visitação que a Cúria pretende criar na catedral.
A idéia de abrir a base das torres e torreões ao público foi do arquiteto Paulo Bastos, 67, responsável pelo restauro da catedral. "Sempre achei a catedral feia. Mas é preconceito. Quando você vai para a cobertura, vê que é excepcionalmente bonita", diz. Para tornar pública a tal beleza, será construída uma escada.
Bastos projetou um elevador panorâmico que conduziria os visitantes até um mirante com vista de 360 graus na torre frontal direita, a 67 metros de altura -a torre com frontão atinge 97 metros. Mas a Cúria considerou o projeto caro demais. A catedral já tem um elevador, mas ele só atinge o coro, a 19,5 metros de altura. Para os deficientes observarem a cúpula da Sé do alto, ele desenhou uma passarela de aço.

Obra de 90 anos
O circuito de visitação é uma espécie de ponto final numa história que começou em 1912, quando a catedral foi projetada pelo arquiteto alemão Maximiliano Hehl. A obra de Hehl foi iniciada no ano seguinte, mas, por conta de duas guerras, só foi inaugurada em 1954, nos festejos do 4º centenário da cidade.
A igreja, porém, foi aberta incompleta. As duas torres frontais, por exemplo, só ficaram prontas em 1968. A construção dos 14 torreões (torres mais baixas, que têm entre 12,64 m e 19,5 m) seria ainda mais morosa. Eles só foram concluídos em 2002, quando a catedral foi reinaugurada, no dia 29 de setembro.
Os 90 anos que separaram o projeto dos torreões de sua construção acabaram por imprimir uma feição contemporânea aos ornamentos.
Como seria virtualmente impossível a sua feitura hoje em pedra, em razão da falta de mão-de-obra e da dificuldade de manejar milhares de quilos numa região de intenso tráfego, Bastos decidiu fazer os torreões em estrutura de aço e revesti-los com um material altamente tecnológico, conhecido pelas iniciais GRC (de glass reinforced concrete), uma mistura de fibra de vidro com argamassa.
O restauro da Sé, que incluiu a recuperação de vitrais e da estrutura, que sofrera abalos causados pelo metrô, custou R$ 19,5 milhões. Os recursos foram obtidos por lei de incentivos.
Um ano após o restauro, a frequência diária à igreja mais do que dobrou, segundo o cônego Severino Martins, 40. Antes, eram cerca de mil pessoas por dia; agora, são 2.500.
O custo do projeto de visitação é bem mais modesto. As obras estão orçadas em cerca de R$ 1 milhão, segundo Ronaldo Ritti, 50, diretor da Concrejato, empresa que restaurou a catedral.
Segundo ele, não é uma obra complexa -envolve, basicamente, a construção de uma escada e de recursos de segurança. Em seis meses, diz Ritti, seria possível terminar o projeto.
A Cúria busca recursos para a obra por meio da Lei Rouanet, segundo Antonio Paulo Rivas, 59, secretário-executivo do projeto de recuperação da Sé. Espera o sinal verde do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para ir atrás de patrocinadores. As obras na catedral, porém, não acabaram. Depois da abertura da cúpula, o plano é restaurar dois altares (os de são Paulo e Santana), o órgão e criar um museu da catedral.

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