São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

Ruas da imaginação


A intervenção significa um exercício de sua própria experiência de imaginação nas ruas da cidade de SP

INTRIGANTES DESENHOS de fósseis de animais começam a aparecer nas faixas de pedestres das ruas de São Paulo. Imagens de seres que remontam a milhões de anos estão motivando uma espécie de caça ao tesouro conectada à era digital. A ideia é que, com os sistemas de localização digital, seja possível descobrir onde estão os desenhos dos fósseis espalhados pela cidade e interagir com eles.
Por trás dessa experiência, batizada de "Fósseis Imaginários", está Ricardo Morel, professor de publicidade do Mackenzie e da Uninove, atualmente pós-graduando em artes plásticas na Unicamp. "Quis fazer uma espécie de brincadeira arqueológica e provocar a imaginação das pessoas."
Para ele, a intervenção significa um exercício de sua própria experiência de imaginação nas ruas.

 

Quando menino, Morel tinha um jeito diferente de brincar nas ruas. Com um pedaço de tijolo, desenhava no chão histórias em quadrinhos com conhecidos super-heróis. "Os meninos adoravam." E a verdade é que as meninas também curtiam a brincadeira: depois da leitura, elas aproveitavam os quadrados para pular amarelinha. "Sou da geração que tem nostalgia das ruas."
Muito tempo depois, já graduado em artes plásticas pela Unesp, elegeu as histórias em quadrinhos como tema de seu mestrado. Acabou tornando-se ilustrador de projetos editoriais e, depois, professor em cursos de publicidade.

 

Neste ano, resolveu voltar a brincar nas ruas, desta vez espalhando as imagens dos fósseis. Com a colaboração de sua mulher, Carol Lopes, que trabalha em jornalismo de internet, elaborou uma intervenção interativa. Por meio de mapas digitais, as pessoas localizam os fósseis e podem, pelo blog, fazer comentários sobre eles. Ao mesmo tempo, recebem "stickers" de mais fósseis para espalhá-los pela cidade. "Nós precisamos colocar mais imaginação nas ruas."

 

Essa brincadeira de arqueologia digital ocorre num momento raro. Não há notícia de já ter havido tantas intervenções de arte ao ar livre ao mesmo tempo na cidade. São os jardins feitos por artistas plásticos europeus e brasileiros no Ibirapuera, promovidos pelo MAM, são os desenhos gigantes nas fachadas de imóveis no centro, inspirados na Bienal da Rua de Paris, são os grafites expostos no Mube, são as 40 reproduções das principais obras do acervo do Masp colocadas em alguns dos pontos de maior movimento da cidade de São Paulo, tudo isso combinando com uma cidade que respira o clima da Bienal.

 

Podem ser apenas um ínfimo detalhe em meio a tantos trabalhos artísticos, mas os fósseis perdidos nas ruas paulistanas acabaram harmonizando-se com essa concentração de imaginação colorida que se esparramou pela cidade.

 

PS- Coloquei as fotos das intervenções fósseis no site www.catracalivre.com.br

gdimen@uol.com.br


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