São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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VIOLÊNCIA

Dois reféns ficaram feridos em tentativa de assalto a supermercado; cerco mobilizou cem policiais, mas um dos criminosos fugiu

Polícia mata ladrão em tiroteio no centro

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
Movimentação de policiais durante tentativa de assalto em um supermercado em Santa Cecília (centro)


DA REPORTAGEM LOCAL

Duas pessoas ficaram feridas durante tiroteio, na rua das Palmeiras (centro de SP), entre policiais e um rapaz de 27 anos que tentou assaltar um supermercado no bairro de Santa Cecília. O assaltante, que foi morto pela polícia com um tiro pelas costas, fez dois reféns ao tentar escapar de um cerco que mobilizou cerca de cem policiais civis e militares. Um helicóptero da PM também foi usado na ação. O outro ladrão, não identificado, fugiu.
"Foi tudo muito rápido. Nem sei de onde vieram os tiros", disse o funcionário do supermercado Barateiro C.H.,19, que foi feito de escudo, por duas vezes, pelo assaltante Florisvaldo dos Santos Gomes. C.H., que preferiu se identificar apenas por iniciais, trabalha há apenas dois meses no supermercado. Ele sofreu um ferimento leve ao ser atingido por um tiro de raspão no braço direito.
A outra ferida no tiroteio foi Isabel Cristina de Oliveira, 37, funcionária de uma lanchonete ao lado do supermercado. Durante a troca de tiros entre policiais e o assaltante, ela foi baleada na perna esquerda. Encaminhada à Santa Casa, será operada hoje.
C.H. ficou no meio da troca de tiros entre policiais militares e o assaltante na saída do supermercado quando Gomes, a pé, tentava fugir. Continuou sendo mantido refém quando Gomes rendeu o motorista M.Y., 42, que foi abordado pelo assaltante ao parar em um semáforo com seu Escort ao lado do supermercado.
O assaltante e os dois reféns fugiram de carro por cerca de cinco minutos por ruas movimentadas do centro, como alameda Barros, Amaral Gurgel e Duque de Caxias. O motorista contou que o assaltante lhe disse para dirigir -mas sem dizer em que direção. C.H. também contou que o assaltante não falou durante a perseguição. "Ele me jogou no banco traseiro do carro e ficou agachado. Não falava nada, mas ficava apontando a arma para todo lado, pra mim, pro motorista, pra rua", afirmou o funcionário.
Nenhum dos dois reféns soube dizer de onde partiram os tiros que atingiram o Escort. No carro, havia seis marcas: duas no vidro traseiro, uma no vidro do passageiro, uma no pneu traseiro e duas na lateral direita.
A perseguição só parou porque o carro travou após um pneu ter sido atingido por um tiro dado pela polícia. Na rua Duque de Caxias com a avenida São João -um dos pontos mais movimentados do centro-, os dois reféns deixaram o carro correndo. Nervosos, os dois foram amparados por policiais civis, os primeiros a chegar no local.
A Polícia Civil diz que não chegou a atirar em Gomes durante a perseguição e que, portanto, ele teria morrido após ser baleado na saída do supermercado, durante troca de tiros com policiais militares. "Não estava lá, não vi quem atirou ou o que falavam. Quando chegamos, só ouvimos os gritos de que tinha um refém e começamos a perseguição. Mas nós temos procedimentos técnicos, não podemos sair atirando a esmo", afirmou o delegado do Garra (Grupo de Repressão a Roubos e Assaltos), Carlos Mezeher.
A PM admite que houve tiroteio mesmo quando Gomes estava com os reféns. O capitão Antônio Bueno de Oliveira Neto justificou a ação dizendo que os disparos foram feitos "para conter a ação do assaltante".
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar quem foram os autores dos tiros que provocaram a morte do assaltante e ferimentos em C.H. e Isabel.
Gomes, de acordo com a PM, teria disparado apenas três vezes e tentado outras duas.

Assalto
O assalto ao supermercado Barateiro teve início por volta das 11h. Um dos homens entrou na loja -armado com um revólver 38- e anunciou o assalto. Dois PMs que passavam pelo local viram a ação e pediram reforço.
Clientes contam que houve tumulto, correria e gritaria dentro do supermercado, que estava movimentado. A ação demorou cerca de dez minutos.
A situação ficou ainda mais tensa quando Gomes mandou as pessoas para o fundo da loja e a polícia começou a cercar o local.
"Eu tentei correr, mas ele falou para não fazer nada e já me levou para a rua", afirmou C.H..
Pouco depois da saída de Gomes, parte dos policiais continuava na rua, procurando pelo segundo assaltante. Quando a situação parecia controlada -por volta das 11h45- começou uma nova correria dentro e fora da loja. Policiais e curiosos começaram a correr pelas ruas próximas, e comerciantes vizinhos chegaram a baixar suas portas.
À procura do segundo assaltante, a polícia chegou a invadir a garagem de um prédio, mas ninguém foi encontrado. A polícia não conseguiu explicar como o segundo assaltante fugiu.
Um policial da Rota -grupo que também se envolveu na ação- se feriu ao cair do teto do supermercado durante o cerco aos assaltantes.
Segundo a polícia, Gomes tinha passagens pela polícia por tráfico e roubo. Com ele foram achados um revólver, um celular e R$ 250 -dinheiro que a polícia supõe que seja do supermercado. A Folha procurou o Barateiro, mas não obteve resposta.


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