São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2005

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TRANSPORTE

Professor se diz frustrado com medida, mas arquiteta temia transtorno e afirma que região não precisava de metrô

Retirada de estação divide os moradores

DA REPORTAGEM LOCAL

As reclamações contra a estação Três Poderes da linha 4 do Metrô, acompanhada de um terminal de ônibus, estão longe de ser uma unanimidade nas imediações. Pelo contrário, muita gente se diz frustrada com a exclusão dela.
"Eu estava bem ansioso, na minha rua todo mundo queria. É uma pena, já estava esperando fazia um tempão", afirmou Fong Chien, 73, professor de pintura que pretendia usar a linha para se deslocar à casa de seus alunos.
"Até gosto de andar, mas eu tenho certa idade, não dá para ir a pé até a próxima estação", diz ele, em referência à distância de até 1,2 km que enfrentará para chegar às paradas Butantã ou Morumbi.
A arquiteta Nancy Miyahara, que participava da Associação dos Moradores do Jardim Christie, afirma que havia morador querendo sair do bairro por causa da estação Três Poderes. Segundo ela, se não houvesse a integração com os ônibus, não haveria tanto problema. Mas, sem isso, a demanda no local cairia demais.
"É uma região que não precisa tanto. As outras estações não ficarão tão distantes", opina.
"É um bairro bem residencial, poderia trazer muito movimento, viriam camelôs, além da quantidade de ônibus. É um transtorno. Tinha um pessoal que já queria fechar as ruas", acrescenta.
O professor aposentado Eduardo Vitale, 79, se diz indeciso sobre os efeitos da estação Três Poderes. "Teve uma discussão muito forte. De um lado, tem a questão do trânsito, de atrair bandido e marreteiro. De outro, dizem que pode valorizar e é uma facilidade. Eu fico na dúvida [se as vantagens seriam maiores que as desvantagens]", afirma ele.
José Sérgio Toledo Cruz, diretor-superintendente da distrital Butantã da Associação Comercial de São Paulo, chegou a promover debates sobre a obra, mas avalia que a maioria dos vizinhos preferia a construção da estação.
Mesmo assim, ele afirma não ter ouvido nenhuma reclamação de comerciantes depois que eles foram informados, há dois meses, da exclusão da Três Poderes.
Entre os pólos geradores de tráfego próximos dela está a faculdade do grupo FMU/FIAM -cujos estudantes seriam usuários.
Para Jaime Waisman, professor da USP (Universidade de São Paulo), a resistência de moradores à presença do transporte coletivo perto de casa reflete um preconceito prejudicial à sociedade.
Em grandes metrópoles desenvolvidas, ricos também andam de metrô e ônibus. "Aqui há uma visão de que principalmente os ônibus são coisa de pobre. É algo preocupante." (ALENCAR IZIDORO)


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