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INFÂNCIA PERDIDA
Polícia investiga a participação de 26 pessoas em esquema; meninas eram abordadas perto de escola em Igarapava
SP apura rede de exploração sexual infantil
RICARDO GALLO
ENVIADO ESPECIAL A IGARAPAVA
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Uma pessoa foi presa, cinco estão foragidas e outras 20 também
podem ser presas acusadas de
participar em esquema de exploração sexual de crianças e adolescentes em Igarapava (a 448 km de
São Paulo). Até ontem, a Promotoria identificou 12 meninas entre
10 anos a 16 anos como aliciadas.
Na lista dos suspeitos estão policiais civis e militares, comerciantes, políticos e "pessoas extremamente influentes na sociedade",
de acordo com o Ministério Público Estadual de Igarapava.
O promotor Antonio Carlos
Guimarães Junior, 32, e o delegado Cloves Rodrigues da Costa, 44,
disseram que as meninas eram
aliciadas em um bar próximo à
escola Alfredo Cesário de Oliveira, para fazer programas em motéis e ranchos.
O esquema funcionava "24 horas por dia", segundo Guimarães
Junior, e cada programa custava
entre R$ 10 e R$ 30. "A gente sempre soube que isso existia na cidade, mas não tinha noção da proporção, do tamanho que é", afirmou o promotor.
A investigação começou no último dia 18 quando a diretora de
uma escola flagrou um auxiliar de
escritório de 27 anos deixando, às
11h30, duas alunas na porta da escola: uma de 13 anos e outra de 15.
As duas garotas foram levadas
para a Promotoria, onde confirmaram terem feito um programa
com o rapaz. O auxiliar foi preso
sob a acusação de estupro, atentado violento ao pudor e favorecimento à prostituição -pela lei,
sexo com meninas de até 14 anos é
considerado estupro, mesmo que
seja consentido.
A partir daí, as investigações do
Ministério Público conseguiram
identificar as outras meninas e,
por elas, outros homens que participaram do esquema. Entre eles
estão cinco policiais militares que
foram recolhidos ao quartel, em
Franca. Dois policiais civis também estão nessa lista -um deles
já teve a prisão decretada e está foragido.
As outras quatro pessoas que
estão foragidas são comerciantes.
Segundo a Promotoria, até um
comerciante -que não estava na
lista de investigação- fechou as
portas do seu comércio nesta semana e desapareceu.
Guimarães Junior afirmou que
desde o início das investigações
uma parte da população tem criticado seu trabalho, alegando que
as garotas "eram sem-vergonhas
e que não havia motivo para acusar as pessoas de bem" envolvidas. "A tolerância para essa prática está num grau extremamente
elevada na cidade. Isso nos deixa
triste", disse. "A maioria dessas
meninas não tem estrutura física.
Não tem nem seios. Para eles, parece ser um prêmio."
"Nunca imaginei que isso fosse
acontecer", afirmou Joana, 29,
mãe de Júlia (nomes fictícios), 13,
uma das meninas. Segundo Joana, a filha tinha tinha comportamento rebelde, era "levada", mas
não a ponto de ser seduzida.
Susto
"Nós nos assustamos demais
porque as meninas falaram nomes de pessoas conhecidas na cidade", disse a advogada Rubiana
Maria Custódio dos Santos, presidente do conselho tutelar. "Foi
uma bomba na cidade." De acordo com ela, as meninas não têm
maturidade suficiente para ter
consciência do que fizeram.
O delegado Costa vai ouvir novamente as nove adolescentes e,
ainda, os empresários, políticos e
comerciantes mencionados nas
denúncias. Ele deve requisitar
exame nas meninas para saber se
já tiveram relação sexual. A intenção é saber se alguma delas mentiu. O delegado estima que o inquérito levará três meses para ser
concluído.
A demora, explica o delegado, é
para evitar condenações precipitadas. Se condenados, os acusados podem pegar de seis a dez
anos por estupro e atentado violento ao pudor, mais outros quatro anos por favorecimento à
prostituição.
Outro lado
A Secretaria da Segurança Pública informou, por meio de uma
nota, que as denúncias estão sendo investigadas. Se for comprovada a participação dos policiais,
eles podem ser expulsos.
O rapaz preso alegou, de acordo
com a polícia, que não conhece as
meninas.
O advogado José Ramirez Neto,
que defende um dos acusados que
está foragido, afirmou que pediu
um habeas corpus no Tribunal de
Justiça e que o cliente dele "nem
conhece as meninas".
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