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NÓS QUE AQUI ESTAMOS...
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Quando a morte vira um motivo para piada
Epitáfios criativos (de mortos e vivos) revelam humor e ironia sobre fim da vida
De maneira distinta, frases em túmulos estão presentes todas as culturas e são capazes de gerar polêmica entre os que ficam
MARIANNE PIEMONTE
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Bem-aventurados os que dão
a última palavra mesmo depois
de mortos, porque deles será
esta reportagem. Particularmente daqueles cujas mensagens póstumas conseguem escapar da sisudez da morte ou do
velho chavão do "aqui jaz", seja
por graça pessoal ou de seus
próximos.
Na hora de definir sua legenda para a eternidade, até um
tremendo frasista como o comediante americano Groucho
Marx acaba revelando que não
é fácil brincar com a posteridade ou driblar o "respeito" à etiqueta de quem fica. Seu túmulo
não traz o auto-epitáfio que cunhou em vida, com a mesma irreverência que lhe fez a fama. A
lápide, em Los Angeles, traz só
os anos de nascimento e morte,
separados por uma estrela de
David. Consta que a família não
teria concordado em embarcar
no chiste pos-mortem.
Se não é fácil para os herdeiros de um gozador mundialmente famoso, imagine para os
de um desconhecido, enterrado
num cemitério tradicional como o da Consolação. Numa de
suas alamedas, a Revista descobriu uma lápide que traz, abaixo do nome do morto (omitido
por razões legais), um aposto
cravado em letras maiúsculas:
A BOSTA. Procurada, a família
não quis comentar.
É quase certo, porém, que o
epitáfio mais polêmico do Brasil seja o de Francisco Franco
de Souza, o Chico Sombração.
Figura lendária de Pirassununga, autodidata e sem religião,
Chico trabalhou com medicina,
botânica, construção civil, fotografia e jornalismo. Quando
morreu, em 1968, aos 82, deixou com um amigo uma mensagem insolente em que se dirigia ao "irmão bípede".
O então prefeito, Lauro Pozzi, considerou o epitáfio uma
ofensa aos bons costumes e
mandou retirá-lo do cemitério
municipal. Avisada, a família
entrou com uma ação na Justiça pedindo a reposição. O processo chegou ao STF (Supremo
Tribunal Federal) e virou discussão nacional. Cinco anos depois, a placa foi recolocada.
Tamanho barulho tem razão
histórica. "De maneira distinta,
os epitáfios estão presentes em
todas as culturas", explica Maria Angela Vilhena, cientista da
religião, especialista em estudos sobre a morte, da PUC-SP.
"Na Idade Média, começaram com frases simples e foram
ganhando textos poéticos com
citações bíblicas. Voltaram a
ser simples na Renascença e,
no período barroco, passaram a
expressar sentimento de dor,
religião e afeto familiar", conta
Maria Elizia Borges, especialista em arte funerária da Universidade Federal de Goiás. O tom
impessoal e padronizado que
vigora hoje surgiu no século 19:
"Pouco texto, informações
pontuadas e só um leve sentimento de dor".
Além de destacar epitáfios
memoráveis, a reportagem pediu a personalidades que fizessem o próprio.
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