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Caso padre Júlio deve ir para a cúpula da polícia
Decap, subordinado apenas à Delegacia Geral, poderá conduzir as investigações
Advogado do religioso critica ação policial e diz ver uma "confluência de diversos interesses" para desmoralizar seu cliente
DA REPORTAGEM LOCAL
A repercussão das acusações
contra o padre Júlio Lancelotti
deve provocar a transferência
das investigações envolvendo o
religioso para a cúpula da Polícia Civil de São Paulo.
Atualmente conduzidas pela
5ª Delegacia Seccional Leste, as
investigações devem ser encaminhadas para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), subordinado
apenas à Delegacia Geral.
Na última sexta-feira, após
ser preso, Anderson Marcos
Batista, 25, afirmou ter feito sexo com padre Júlio em troca de
dinheiro e, em oito anos, recebido mais de R$ 600 mil.
Advogado do padre, o ex-deputado petista Luiz Eduardo
Greenhalgh classificou de mentirosa a afirmação de Batista.
O padre acusa o ex-interno
da Febem de extorquir dinheiro dele, com a ajuda da mulher,
Conceição Eletério, 44, após alguns anos de ajuda voluntária.
O padre relatou à polícia que
repassou a Batista cerca de R$
80 mil -primeiramente, falou
em R$ 50 mil. Anteontem, sua
defesa admitiu que o valor pode
chegar a R$ 150 mil.
Lancelotti afirma ter entregue o dinheiro por medo de ser
agredido pelo grupo e, ainda,
por crer que "poderia mudar as
pessoas que o extorquiam".
Segundo a Folha apurou, o
delegado Emílio Françolim vai
se reunir hoje com os delegados Marco Antônio Bernardino
Santos e André Luiz Pimentel
para discutir o assunto. A alegação para transferir as investigações seria o desconforto dos
policiais em lidar com pessoa
de prestígio internacional.
O que também deve pesar é a
polícia tentar evitar ser acusada de usar o episódio para desviar o foco de acusações contra
policiais, como o delegado Pedro Pórrio -ligado à 5ª Seccional e suspeito de extorsão.
Greenhalgh usa esse argumento para dizer que há "uma
confluência de interesses" para
desmoralizar o padre. "A 5ª
Seccional deveria estar hoje no
centro de uma investigação de
extorsão. Estranhei os interesses do delegado em ficar distribuindo para a imprensa os depoimentos", afirmou.
O advogado citou ainda
questões religiosas. "Tem interesse da Igreja Universal em
desmoralizar um padre da
Igreja Católica. Há interesse da
Record versus Globo."
O diretor do Decap, Aldo Galiano, disse que vai analisar o
pedido de transferência do caso e, tendo uma boa justificativa, vai designar um delegado
com perfil apropriado.
Disse, entretanto, que vai
opinar contra, por acreditar
que os policiais estão fazendo
um trabalho "digno de elogio".
Galiano diz que são injustas
as afirmações de Greenhalgh.
"Estamos apurando com isenção. Fiquei até chateado."
Além da extorsão, os policiais investigam uma acusação
de corrupção de menores contra o padre. A única testemunha, que não tem o nome revelado, diz ser ex-funcionária de
uma entidade ligada ao religioso e afirma ter visto um beijo
entre ele e um jovem.
Segundo Galiano, essa mulher tem ligação com Antonio
Gilberto da Silva, que presidiu
o sindicato dos funcionários da
antiga Febem. Silva não foi localizado.
(ROGÉRIO PAGNAN, MARIO CESAR CARVALHO, ALENCAR IZIDORO, VINÍCIUS
QUEIROZ GALVÃO E KLEBER TOMAZ)
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