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CONTRA O VETO AO LIVRO
Não fariam isso se fosse Shakespeare, diz professora
Especialista defende Lobato e diz que escola deve contextualizar tema
Para Milena Martins, preconceito visto hoje nos livros era interação de personagem negro com a época do escritor
DE BRASÍLIA
Milena Ribeiro Martins, especialista em Monteiro Lobato e professora de literatura
brasileira e teoria literária da
Universidade Federal do Paraná, defende a utilização
das obras do escritor nas escolas e remete ao mediador
de leitura a discussão sobre o
tratamento aos negros.
Folha - Há elementos de racismo na obra do escritor?
Milena Martins - De fato,
aparecem muitos ditos preconceituosos na obra de
Monteiro Lobato. [Hoje] temos um linguajar politicamente correto que é tido como modelo, e tudo o que foge
a ele é errado: preto é menos
desejável que negro, melhor
ainda é afrodescendente.
Na época de Lobato, é bom
que a figura do negro apareça com o destaque de uma
pessoa afável como a Tia
Nastácia. Antes, aparecia só
como denúncia social ou não
aparecia. Então, temos uma
personagem negra que assume voz importante, mesmo
que seja chamada de negra
beiçuda. Significa que ela está interagindo.
O CNE recomendou uma nota
para acompanhar os livros.
Qual é sua opinião?
Precisa haver o discernimento do professor. Um livro
levado para escola não é lido
sem a mediação do professor. Se vamos passar pente fino nos livros procurando
preconceito, vamos ter que
fazer em todos os clássicos. É
humanamente impraticável.
O que a sra. acha do abandono do livro pelo governo?
O Lobato é um escritor
contra o qual muitas vozes se
levantam. Se o ponto fosse o
abandono de "O Mercador de
Veneza" pela questão dos judeus, não se faria porque é
[William] Shakespeare. O livro de Lobato deve ser distribuído, ele é um grande escritor nacional.
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