São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

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URBANIDADE
Pobre Morumbi

GILBERTO DIMENSTEIN

Já estão prontos os estudos oficiais que recomendam a transferência do gabinete do governador para o centro da cidade, preparando a debandada do poder político do Morumbi, símbolo dos endinheirados paulistanos.
A mudança conta com o apoio de toda a cúpula do governo estadual, a começar de Mário Covas e de seu vice, Geraldo Alckmin. Os técnicos informam que a mexida espacial daria mais eficiência à administração: economizaria tempo e dinheiro em deslocamentos, além de facilitar a revitalização da região central.
Nos estudos, há uma lista de candidatos a receber a sede do governo estadual: a secretaria da Fazenda, na Rangel Pestana, e o Caetano de Campos, na Praça da República, por exemplo.
De onde tirar o dinheiro para essa operação retorno? A primeira e mais óbvia resposta: leiloar o Palácio dos Bandeirantes, planejado inicialmente para ser uma universidade. Mais um motivo de preocupação para os moradores do Morumbi, compreensivelmente desejosos de manter seu mais notável vizinho. Não só pelo prestígio político, mas pelo cinturão de segurança formado em torno do Palácio dos Bandeirantes.
Sinal da inquietação, a recém-criada Associação dos Moradores do Morumbi surgiu para combater o que considera a decadência do bairro. Mobiliza os poderosos associados contra a especulação imobiliária, ataques contra a área verde e o aumento do fluxo de automóveis.
Os moradores resolveram investir contra o surto de condomínios privados, construídos onde antes havia mansões avaliadas em R$ 2 milhões. No lugar, surge um conglomerado de casas menores vendidas por até R$ 400 mil; para ganhar espaço, expulsam as áreas verdes. "Os imóveis são vendidos numa velocidade absurda", afirma o economista Carlos Gibrail, presidente da Associação dos Moradores do Morumbi, temeroso de que o bairro vire uma espécie de Itaim Bibi.
Daí se imagina, então, o apetite imobiliário que vai despertar o Palácio dos Bandeirantes, a jóia do Morumbi -se for um condomínio fechado, a ser ocupado pelos emergentes paulistanos em busca do convívio com as elites e sensação fugaz de intimidade com a impotência política, até a cerca e as guaritas já estão prontas.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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