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URBANIDADE
Pobre Morumbi
GILBERTO DIMENSTEIN
Já estão prontos os estudos
oficiais que recomendam a
transferência do gabinete do governador para o centro da cidade,
preparando a debandada do poder político do Morumbi, símbolo
dos endinheirados paulistanos.
A mudança conta com o apoio
de toda a cúpula do governo estadual, a começar de Mário Covas e
de seu vice, Geraldo Alckmin. Os
técnicos informam que a mexida
espacial daria mais eficiência à
administração: economizaria
tempo e dinheiro em deslocamentos, além de facilitar a revitalização da região central.
Nos estudos, há uma lista de
candidatos a receber a sede do governo estadual: a secretaria da
Fazenda, na Rangel Pestana, e o
Caetano de Campos, na Praça da
República, por exemplo.
De onde tirar o dinheiro para
essa operação retorno? A primeira e mais óbvia resposta: leiloar o
Palácio dos Bandeirantes, planejado inicialmente para ser uma
universidade. Mais um motivo de
preocupação para os moradores
do Morumbi, compreensivelmente desejosos de manter seu mais
notável vizinho. Não só pelo prestígio político, mas pelo cinturão
de segurança formado em torno
do Palácio dos Bandeirantes.
Sinal da inquietação, a recém-criada Associação dos Moradores
do Morumbi surgiu para combater o que considera a decadência
do bairro. Mobiliza os poderosos
associados contra a especulação
imobiliária, ataques contra a
área verde e o aumento do fluxo
de automóveis.
Os moradores resolveram investir contra o surto de condomínios
privados, construídos onde antes
havia mansões avaliadas em R$ 2
milhões. No lugar, surge um conglomerado de casas menores vendidas por até R$ 400 mil; para ganhar espaço, expulsam as áreas
verdes. "Os imóveis são vendidos
numa velocidade absurda", afirma o economista Carlos Gibrail,
presidente da Associação dos Moradores do Morumbi, temeroso de
que o bairro vire uma espécie de
Itaim Bibi.
Daí se imagina, então, o apetite
imobiliário que vai despertar o
Palácio dos Bandeirantes, a jóia
do Morumbi -se for um condomínio fechado, a ser ocupado pelos emergentes paulistanos em
busca do convívio com as elites e
sensação fugaz de intimidade
com a impotência política, até a
cerca e as guaritas já estão prontas.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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