São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

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Obra coloca em debate a liberdade de expressão

DO PROGRAMA DE QUALIDADE

"Na cadeia, ninguém sabe a moradia da verdade." O médico Drauzio Varella costuma dizer que essa frase o ajudou a entender melhor a Casa de Detenção.
Em "Letras de Liberdade", as histórias tratam de abusos e violências de diversas espécies. Não é possível avaliar o quanto é real e o quanto é invenção.
Luiz Antonio de Oliveira Campos, 46, que responde por assalto a mão armada, homicídio e tráfico de drogas, condenado a 68 anos, faz uma descrição de forte impacto da invasão da Penitenciária do Estado, em agosto de 87.
"Os PMs levaram Buldogue e Zoreia até a galeria baixa, onde foram espancados e esfaqueados. A seguir, os cães, excitados, acabaram de matá-los. Os dois presos tiveram as cabeças arrancadas, colocadas no carrinho e levadas de presente para o diretor."
O detento diz que essa invasão (não confundir com o massacre da Casa de Detenção, em 1992) "teve um resultado de, no mínimo, 100 mortos. Os números oficiais foram de 31 mortos".
O ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, então secretário estadual da Segurança do governo Quércia, diz que "morreram 36 detentos e um carcereiro. Existe um registro de presos. Para acontecer um caso desses, teria de haver conivência do Judiciário, da direção do presídio, dos presos e da imprensa. É fantasia total".
O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, elogiado no mesmo texto, acha que, sejam 36 ou 100, o que muda é a intensidade da manchete. "A gravidade do fato permanece a mesma, ou seja, a desproporção da ação policial."
O editor Wagner Veneziani acha que, verdade ou não, não cabe julgar. "Entrei nisso porque não houve nenhuma censura." Para Ives Gandra, não teria sentido estabelecer censura. "O fato de não haver filtro é o melhor."
Procurado para comentar trechos do livro, o secretário da Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi, disse, por meio de sua assessoria, que prefere ter uma visão completa da obra para depois opinar. (ECD)


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