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OUTROS OLHOS
Mulheres detidas por tráfico que têm doença terminal não são raridade em prisões, segundo coordenadora nacional
"Brasil tem várias Iolandas", afirma pastoral
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome dela é Iolanda Figueiral,
mas poderia ser Vilma Gonzaga
Gamarra ou Maria Aparecida da
Conceição. Para a norte-americana Heidi Cerneka, coordenadora
nacional da Pastoral Carcerária
Feminina, as histórias dessas presas têm semelhanças que mostram que a situação de Iolanda, a
única viva das três mulheres, não
é nenhuma novidade nas prisões.
Aos 79 anos, ex-bóia-fria, doente terminal de câncer de ovário e
de intestino, Iolanda espera julgamento na Penitenciária Feminina
do Tatuapé, na zona leste de São
Paulo, sob a acusação de tráfico
de drogas, como informou a Folha na edição de ontem.
Ela se diz inocente e afirma que
os 16 gramas de crack encontrados na sua casa, em Campinas, há
quatro meses, foram jogados por
um estranho antes da chegada da
polícia. Apesar de ser presa provisória e sem antecedentes, a Justiça
negou os pedidos de liberdade.
"O caso de dona Iolanda não
pode ser considerado uma exceção. É apenas mais uma situação
criada pela aplicação da lei de crimes hediondos em relação às mulheres. O Brasil tem várias Iolandas", afirmou Heidi, que cita casos que atendeu. A pastoral não
tem um levantamento específico.
Com a experiência de quem entra nas prisões paulistas há nove
anos, ela afirma que as mulheres
são as mais prejudicadas por essa
lei. Por causa dela, os crimes hediondos ou equiparados -o tráfico de drogas entra nesse caso-
foram tratados com mais rigor.
Hoje o tráfico é o crime hediondo ou equiparado responsável pelo maior número de pessoas presas. Entre as mulheres, tem ainda
mais representatividade. Segundo censo penitenciário de São
Paulo, 43,8% das mulheres estão
presas por tráfico -é a maior
causa de prisão. Entre os homens,
o líder é o roubo (65%).
Iolanda, Vilma e Maria Aparecida foram presas por tráfico. Vilma morreu aos 52 anos, de Aids,
em setembro, na penitenciária feminina da capital. Cumpriu dois
anos em regime fechado dos três
previstos na pena. Se não fosse
um crime hediondo, ela poderia
ter saído antes desse prazo.
Maria Aparecida ficou paraplégica depois de ser vítima de uma
infecção hospitalar. Segundo Heidi, ficou mais de seis meses no
hospital antes de voltar para a penitenciária feminina da capital,
onde morreu. "São muitas histórias parecidas. Para evitá-las, só
mudando a lei e fazendo com que
a Justiça leve em consideração o
caráter humanitário, sim", disse.
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