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Delegado do Pará cai após chamar jovem presa de débil
Governadora aceitou pedido de demissão e disse que permanência era "insustentável"
Policial afirmou em nota que "não soube usar as palavras certas'; anteontem, no Senado, ele disse que ela tem "alguma debilidade mental"
LEILA SUWWAN
DA ENVIADA ESPECIAL A BELÉM
Um dia depois de chamar de
débil mental a menor L. -que
passou 26 dias detida com homens em Abaetetuba (PA)-, o
delegado-geral da Polícia Civil
do Estado, Raimundo Benassuly Maués Júnior, pediu demissão do cargo à governadora
Ana Júlia Carepa (PT). Ela
aceitou o pedido e afirmou que
a permanência dele na função
era "insustentável".
O delegado emitiu nota na
qual explicou que colocou o
cargo à disposição porque "não
soube usar as palavras certas"
para expressar sua preocupação e indignação com a saúde
da menor, que denunciou estupros diários na carceragem e
que agora está sob proteção do
governo federal.
"Essa moça tem, com certeza, alguma debilidade mental,
porque em nenhum momento
ela manifestou sua menoridade", disse Benassuly anteontem durante audiência pública
da Comissão de Direitos Humanos do Senado, em Brasília.
A frase causou mal-estar imediato, e a governadora o repreendeu.
Apesar de aceitar a demissão
de Benassuly, Ana Júlia fez
questão de agradecer ao policial por serviços prestados.
"Quero agradecer ao delegado
Benassuly pelos serviços prestados com ética e dedicação,
durante esses 11 meses em que
esteve à frente da Polícia Civil."
A Corregedoria da Polícia Civil está conduzindo um processo administrativo para apurar a
responsabilidade de delegados
e agentes carcerários no episódio da detenção de L. Além disso, há outro inquérito policial
para investigar a acusação de
estupro.
Demolição
A governadora também
anunciou reformas e construções de novos presídios, com as
verbas liberadas pelo governo
federal após audiência, anteontem, com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
O primeiro ato será a demolição da carceragem de Abaetetuba e a construção de um centro de triagem com celas adequadas para homens e mulheres -ontem, em visita a Abaetetuba, deputados federais que
foram investigar a violação de
direitos humanos no Pará decidiram que iriam pedir a demolição da cadeia.
Haverá ainda a reforma
"imediata" do Centro de Recuperação Feminina, o único presídio de mulheres do Pará, na
região metropolitana de Belém,
e cuja precariedade foi verificada pela CPI do Sistema Carcerário ontem. Além de construir
um berçário, deve ser modificada a estrutura atual.
A Folha visitou um pavilhão
chamado de "contêiner", construído em blocos de metal, já
enferrujado pela umidade e
com superaquecimento durante o dia.
Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em
Abaetetuba
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