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Newton Bernardes e a "bela ciência"
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando Gilberto Gil foi à
Unicamp debater sobre seu
disco "Quanta", criticado pela densidade teórica, ouviu
do físico Newton Bernardes
que era natural o choque entre arte e ciência. Foi com essa "bela ciência" e "instigando gerações mais jovens", dizem amigos, que Newton
tornou-se tão conhecido.
Nascido em Igarapava
(SP), o físico formado pela
USP em 1952 especializou-se
em mecânica quântica, termodinâmica e teoria do estado sólido, no Brasil e no exterior. Nos Estados Unidos, alcançou um de seus maiores
orgulhos -um trabalho tentando explicar a supercondutividade, citado no paper
sobre a teoria BCS que resultaria aos autores no Nobel de
1972. Prêmio que poderia ter
sido dele, gostava de frisar.
Chegou a chefiar um grupo
de física de sólidos no Instituto para Pesquisa Atômica
na Comissão de Energia Atômica dos EUA, mas voltou ao
Brasil para lecionar. Por 30
anos foi professor -desses
que dão nó na cabeça dos alunos, excitado ao desafiar as
teorias consagradas.
Dirigiu ainda o Instituto
de Física da USP e fundou o
Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da
Unicamp. E lá que está toda a
sua biblioteca, doada por ele
há poucos meses.
Sempre com bom humor,
dizia aos amigos -cientistas
como Cesar Lattes- que havia apenas duas saídas para
um físico fazer carreira no
Brasil: nascer em Pernambuco (a exemplo de Mário
Schenberg) ou se casar com
uma pernambucana (como
fizeram Lattes e ele mesmo).
Bernardes tinha sete filhos. Morreu no domingo em
Campinas, no hospital, de
pneumonia. Tinha 76 anos.
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