São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cidades têm de se adaptar a "novo clima", afirma urbanista

Para pesquisador da PUC-PR, parâmetros urbanos devem se tornar rígidos para reduzir o impacto de acidentes naturais

Legislação deveria ampliar a restrição sobre construções em declive e projetos devem incluir impermeabilização do solo, diz Clóvis Ultramari

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O planejamento das cidades precisa se adaptar à intensificação das mudanças climáticas. De acordo com urbanista Clóvis Ultramari, pesquisador da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), há sinais de que os atuais parâmetros urbanos têm de se tornar mais rígidos, de modo a reduzir o impacto de acidentes naturais como as tempestades que vêm assolando Santa Catarina.
"Acreditamos que essas mudanças climáticas estão acontecendo e são mais fatais", afirma. "Há cientistas tentando comprovar isso, outros têm dúvidas; mas é preciso tentar controlar todas as variáveis", diz, acrescentando que há estudos urbanísticos que consideram as recentes alterações de clima.
Para Ultramari, o histórico de enchentes na região e a facilidade que algumas áreas, como Blumenau, têm para deslizamentos deveria levar a uma política de prevenção do problema. Nestes termos, as enchentes no Sul podem ser comparadas à seca do Nordeste: apesar de ocorrerem todos os anos, ainda não há prevenção.
O especialista defende que a legislação urbana seja adaptada para uma nova realidade. "A gente não tem respeitado nem esse mínimo [previsto]. E agora, com esse agravante climático, talvez a gente tenha de ser mais exigente ainda. Não sei dizer o que vai resultar disso, se não conseguimos dar conta daquilo que é o mínimo hoje."

Declividade
Segundo ele, a legislação deveria ampliar a restrição sobre construções em declive -hoje é permitido construir em terrenos em que a diferença entre frente e fundo não supere 30%. Mas nem isso, diz, é cumprido.
Projetos arquitetônicos devem se preocupar com a impermeabilização do solo; o ideal é que a área construída ocupe, no máximo, 50% do total do terreno, para um escoamento satisfatório da água. O adensamento populacional, que pode aumentar o desgaste geológico, também deve ser levado em conta.
Ultramari afirma, no entanto, que a pressão imobiliária pode fazer com que aumentem os riscos de ocupação.
Segundo o especialista, uma das únicas medidas de curto prazo é investir na reconstituição da cobertura vegetal, para impedir novos deslizamentos.
Projetos arquitetônicos mais bem adaptados para as chuvas e obras de saneamento também podem contribuir. "Essas soluções têm de ser tomadas antes. O trabalho que vemos hoje está sendo feito pela Defesa Civil. O planejamento urbano é algo anterior a isso", afirma.


Texto Anterior: Alerta: E-mails falsos pedem doações para as vítimas de enchentes em SC
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.