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Cidades têm de se adaptar a "novo clima", afirma urbanista
Para pesquisador da PUC-PR, parâmetros urbanos devem se tornar rígidos para reduzir o impacto de acidentes naturais
Legislação deveria ampliar a restrição sobre construções em declive e projetos devem incluir impermeabilização do solo, diz Clóvis Ultramari
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
O planejamento das cidades
precisa se adaptar à intensificação das mudanças climáticas.
De acordo com urbanista Clóvis Ultramari, pesquisador da
PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), há sinais de que os atuais parâmetros urbanos têm de se tornar
mais rígidos, de modo a reduzir
o impacto de acidentes naturais como as tempestades que
vêm assolando Santa Catarina.
"Acreditamos que essas mudanças climáticas estão acontecendo e são mais fatais", afirma. "Há cientistas tentando
comprovar isso, outros têm dúvidas; mas é preciso tentar controlar todas as variáveis", diz,
acrescentando que há estudos
urbanísticos que consideram as
recentes alterações de clima.
Para Ultramari, o histórico
de enchentes na região e a facilidade que algumas áreas, como
Blumenau, têm para deslizamentos deveria levar a uma política de prevenção do problema. Nestes termos, as enchentes no Sul podem ser comparadas à seca do Nordeste: apesar
de ocorrerem todos os anos,
ainda não há prevenção.
O especialista defende que a
legislação urbana seja adaptada
para uma nova realidade. "A
gente não tem respeitado nem
esse mínimo [previsto]. E agora, com esse agravante climático, talvez a gente tenha de ser
mais exigente ainda. Não sei dizer o que vai resultar disso, se
não conseguimos dar conta daquilo que é o mínimo hoje."
Declividade
Segundo ele, a legislação deveria ampliar a restrição sobre
construções em declive -hoje é
permitido construir em terrenos em que a diferença entre
frente e fundo não supere 30%.
Mas nem isso, diz, é cumprido.
Projetos arquitetônicos devem se preocupar com a impermeabilização do solo; o ideal é
que a área construída ocupe, no
máximo, 50% do total do terreno, para um escoamento satisfatório da água. O adensamento
populacional, que pode aumentar o desgaste geológico, também deve ser levado em conta.
Ultramari afirma, no entanto, que a pressão imobiliária
pode fazer com que aumentem
os riscos de ocupação.
Segundo o especialista, uma
das únicas medidas de curto
prazo é investir na reconstituição da cobertura vegetal, para
impedir novos deslizamentos.
Projetos arquitetônicos mais
bem adaptados para as chuvas e
obras de saneamento também
podem contribuir. "Essas soluções têm de ser tomadas antes.
O trabalho que vemos hoje está
sendo feito pela Defesa Civil. O
planejamento urbano é algo
anterior a isso", afirma.
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