São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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SC tenta evitar abandono de abrigos

Defesa Civil diz que desafio é evitar que vítimas das chuvas retornem para as casas em área de risco

Em Ilhota, uma das cidades mais afetadas, ao menos 600 pessoas que estavam em abrigos já voltaram para casa, diz bombeiro voluntário

MATHEUS PICHONELLI
PABLO SOLANO
GUSTAVO HENNEMANN

DA AGÊNCIA FOLHA

Uma semana depois de o início dos temporais que arrasaram parte de Santa Catarina, o desafio das autoridades agora é evitar que as vítimas das chuvas abandonem abrigos e voltem para as casas onde há riscos de novos desabamentos. A tensão e a ansiedade nos abrigos, de acordo com a Defesa Civil catarinense, são "grandes".
"É muito difícil você convencer as pessoas de que há perigo em retornar. Elas querem conforto, e nos abrigos a privacidade é zero. No terceiro dia, elas já não suportam", relata o gerente estadual da Defesa Civil, Emerson Neri Emerim.
"Se viramos as costas, as pessoas deixam os abrigos. E aí você tem que voltar às casas e trazê-las de volta. É trabalho redobrado, que envolve psicólogos e assistentes sociais", afirma ele.
Muitos ainda se negam a deixar suas casas, mesmo sob o risco de novos deslizamentos -e a Polícia Militar foi autorizada a usar a força para retirar um grupo de moradores de um local de risco em Ilhota, onde foi dada ordem de evacuação.
Ontem foi confirmada a 100ª morte por causa das chuvas. Dezenove pessoas estavam ainda desaparecidas. Segundo Emerim, havia informações de que outras quatro pessoas morreram em deslizamento ontem na área a ser evacuada em Ilhota. As mortes, porém, ainda não haviam sido contabilizadas oficialmente até as 19h30.
Segundo Pedro Paulo Baptista Neto, bombeiro voluntário em Ilhota, pelo menos 600 pessoas que estavam em abrigos na cidade já voltaram para casa.
Em Gaspar, a Defesa Civil municipal tem encaminhado termos de responsabilidade nas residências em áreas de risco para moradores que resistem a sair. Em muitos casos, afirma o diretor do órgão em Gaspar, Luiz Mário da Silva, o pai decide permanecer na casa para evitar furtos e apenas mulher e filhos vão para abrigos.
O medo de que ocorram casos de furtos ou saques levou a Polícia Militar a reforçar o patrulhamento nas áreas atingidas, onde a circulação, à noite, é restrita. Até ontem à tarde, três pessoas foram detidas por circularem pelas ruas de Itajaí depois das 22h -um deles era foragido e tinha ordem de prisão por roubo. Os outros dois já foram liberados.
O número de desabrigados em SC é de 27.410 pessoas. Na terça, eram mais de 33 mil.
Para Emerim, o número de desabrigados é menor porque casas atingidas só por enchentes já não representam perigo, e muitos já podem voltar.
Em Balneário Camboriu e Nova Trento os abrigos já foram desativados. Em Blumenau, onde há riscos de deslizamentos, a volta para casa ainda deve demorar alguns dias. O governo catarinense alertou ontem a população local para riscos de novos deslizamentos.
Ainda segundo o major, uma psicóloga da Defesa Civil de Brasília deve chegar amanhã ao Estado para ajudar a atender os desabrigados. "É o que chamamos de psicologia da tragédia."
Novos temporais estão previstos para o Estado a partir de segunda-feira, após tempo instável no fim de semana.
Ontem, a Fiesc (Federação das Indústrias de SC) divulgou estimativa de o Vale do Itajaí tenha perdas de R$ 358,3 milhões por semana parada -o que não inclui danos à infra-estrutura, casas e indústrias.


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