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Kassab asfalta "meia rua" para desfile de F1
SP recuperou só uma parte da av. Pedro Álvares Cabral, onde haverá demonstração de carros da Renault, entre os quais um pilotado por Piquet
No sentido oposto da via, o asfalto continua irregular e com pintura apagada; reforma da pista custou cerca de R$ 435 mil
RICARDO SANGIOVANNI
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um carro de Fórmula 1 fará
amanhã uma demonstração
em 1.200 metros da avenida Pedro Álvares Cabral (zona sul de
São Paulo) que nem de longe
lembram as vias de pavimentação irregular que os motoristas
enfrentam no restante da cidade -o trecho foi recapeado pela
gestão Gilberto Kassab (DEM)
especialmente para o "desfile",
promovido pela montadora
francesa Renault.
Às 11h50 deste domingo,
quando for dada a largada, o
Fórmula 1 pilotado por Nelsinho Piquet irá rasgar o asfalto
cinza-escuro novinho -um
verdadeiro tapete, que custou à
prefeitura cerca de R$ 435 mil
- do sentido Jabaquara da avenida, que teve a pintura refeita.
Entretanto, no sentido oposto da avenida -de costas para
as arquibancadas, montadas
sobre o canteiro- o asfalto permanece irregular e exibindo o
cinza esmaecido com pintura
semi-apagada de sempre.
A pista lisa começa no Monumento às Bandeiras, em frente
ao parque Ibirapuera, e termina logo após a praça Ibrahim
Nobre, próximo ao Obelisco.
Metros adiante, porém, quem
segue pela avenida vê o asfalto
mudar de cor -o primeiro buraco aparece ainda no acesso à
avenida Ibirapuera.
Segundo a prefeitura, o restauro custou R$ 29 por metro
quadrado, em média, o que dá
cerca de R$ 435 mil pelo trecho
de 1.200 metros.
A "repaginação" foi feita estritamente no trecho em que a
montadora promove o "Renault Roadshow", um desfile de
modelos da marca que já passou por Tóquio (Japão) e Sevilha (Espanha).
Além do Fórmula 1, a Renault
exibirá lançamentos e modelos
antigos e divulgará a "Copa Renault Clio", das 8h às 13h, com
entrada gratuita -a expectativa dos organizadores é que 80
mil pessoas compareçam. Segundo a assessoria do evento, a
Renault não dará nenhuma
contrapartida à prefeitura.
Favorável a parcerias público-privadas, o diretor do Núcleo de Pesquisas de Políticas
Públicas da USP, José Álvaro
Moisés pondera que "se a prefeitura entra com a recuperação da via" sem que a Renault
dê contrapartidas, como "patrocínio a iniciativas culturais"
ou até mesmo "veículos" à prefeitura, trata-se de "uma burla
do interesse público".
"Em uma São Paulo com tantas carências, não faz sentido a
prefeitura gastar dinheiro público para facilitar a vida de
uma empresa privada", afirma
Moisés, para quem não é razoável comparar o evento com um
GP de Fórmula 1 ou uma Olimpíada. "Não se compara nem a
um clássico de clubes da cidade", afirmou Moisés.
Professor de Administração
da PUC e ex-secretário de Negócios Extraordinários da gestão Erundina (1989-92), Ladislau Dowbor qualificou a ação da
prefeitura uma "demonstração
de cosmética urbana".
Trânsito
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) já está monitorando a região do evento
desde ontem. A companhia
mobilizou 13 técnicos e 74
agentes, além de 550 cavaletes,
500 m de gradis, 50 cones e 12
faixas de orientação. O serviço,
que custa R$ 54 mil, será pago
pela própria prefeitura.
Nas arquibancadas, foram
colocadas bandeiras com as
marcas da montadora e da prefeitura, além de uma placa com
a marca do evento, que tiveram
aprovação especial da prefeitura -caso contrário, desrespeitariam a lei Cidade Limpa.
Colaboraram EVANDRO SPINELLI e ROGÉRIO
PAGNAN, da Reportagem Local
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