São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Kassab asfalta "meia rua" para desfile de F1

SP recuperou só uma parte da av. Pedro Álvares Cabral, onde haverá demonstração de carros da Renault, entre os quais um pilotado por Piquet

No sentido oposto da via, o asfalto continua irregular e com pintura apagada; reforma da pista custou cerca de R$ 435 mil

RICARDO SANGIOVANNI
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um carro de Fórmula 1 fará amanhã uma demonstração em 1.200 metros da avenida Pedro Álvares Cabral (zona sul de São Paulo) que nem de longe lembram as vias de pavimentação irregular que os motoristas enfrentam no restante da cidade -o trecho foi recapeado pela gestão Gilberto Kassab (DEM) especialmente para o "desfile", promovido pela montadora francesa Renault.
Às 11h50 deste domingo, quando for dada a largada, o Fórmula 1 pilotado por Nelsinho Piquet irá rasgar o asfalto cinza-escuro novinho -um verdadeiro tapete, que custou à prefeitura cerca de R$ 435 mil - do sentido Jabaquara da avenida, que teve a pintura refeita.
Entretanto, no sentido oposto da avenida -de costas para as arquibancadas, montadas sobre o canteiro- o asfalto permanece irregular e exibindo o cinza esmaecido com pintura semi-apagada de sempre.
A pista lisa começa no Monumento às Bandeiras, em frente ao parque Ibirapuera, e termina logo após a praça Ibrahim Nobre, próximo ao Obelisco.
Metros adiante, porém, quem segue pela avenida vê o asfalto mudar de cor -o primeiro buraco aparece ainda no acesso à avenida Ibirapuera.
Segundo a prefeitura, o restauro custou R$ 29 por metro quadrado, em média, o que dá cerca de R$ 435 mil pelo trecho de 1.200 metros.
A "repaginação" foi feita estritamente no trecho em que a montadora promove o "Renault Roadshow", um desfile de modelos da marca que já passou por Tóquio (Japão) e Sevilha (Espanha).
Além do Fórmula 1, a Renault exibirá lançamentos e modelos antigos e divulgará a "Copa Renault Clio", das 8h às 13h, com entrada gratuita -a expectativa dos organizadores é que 80 mil pessoas compareçam. Segundo a assessoria do evento, a Renault não dará nenhuma contrapartida à prefeitura.
Favorável a parcerias público-privadas, o diretor do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP, José Álvaro Moisés pondera que "se a prefeitura entra com a recuperação da via" sem que a Renault dê contrapartidas, como "patrocínio a iniciativas culturais" ou até mesmo "veículos" à prefeitura, trata-se de "uma burla do interesse público".
"Em uma São Paulo com tantas carências, não faz sentido a prefeitura gastar dinheiro público para facilitar a vida de uma empresa privada", afirma Moisés, para quem não é razoável comparar o evento com um GP de Fórmula 1 ou uma Olimpíada. "Não se compara nem a um clássico de clubes da cidade", afirmou Moisés. Professor de Administração da PUC e ex-secretário de Negócios Extraordinários da gestão Erundina (1989-92), Ladislau Dowbor qualificou a ação da prefeitura uma "demonstração de cosmética urbana".

Trânsito
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) já está monitorando a região do evento desde ontem. A companhia mobilizou 13 técnicos e 74 agentes, além de 550 cavaletes, 500 m de gradis, 50 cones e 12 faixas de orientação. O serviço, que custa R$ 54 mil, será pago pela própria prefeitura.
Nas arquibancadas, foram colocadas bandeiras com as marcas da montadora e da prefeitura, além de uma placa com a marca do evento, que tiveram aprovação especial da prefeitura -caso contrário, desrespeitariam a lei Cidade Limpa.

Colaboraram EVANDRO SPINELLI e ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local



Texto Anterior: Empreendedor social
Próximo Texto: Outro lado: Críticas aos gastos com o evento são elitistas, afirma secretário de Esportes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.