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CONFRONTO NO RIO
Criminosos já estavam arrasados, diz mediador
José Júnior fala que não queria criminoso morto em confronto
O coordenador do grupo AfroReggae já sabia que um dos chefes do tráfico no Complexo do Alemão pediu aval para matá-lo
PLÍNIO FRAGA
DO RIO
Há 17 anos na mediação de
conflitos em favelas do Rio,
José Júnior, 41, coordenador
do Grupo AfroReggae, tentou
convencer traficantes do
Complexo do Alemão a deporem as armas, tendo como interlocutores lideranças que
defendiam seu assassinato.
Cartas apreendidas em
agosto no presídio de Catanduvas (PR), destinadas a chefes do Comando Vermelho,
pediam autorização para matá-lo. A polícia acredita que
os autores foram os traficantes Luciano Martiniano da
Silva, o Pezão, e Fabiano Atanásio da Silva, o FB.
"Posso ser mal interpretado e é tudo o que os reacionários querem ouvir: eu não
queria que os bandidos morressem. Não é um exercício
de generosidade, bondade,
mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém", disse ele à Folha.
Júnior diz como encontrou
os traficantes: "O governo
cansou os caras. Encontrei
um grupo arrasado emocionalmente. Não demonstravam interesse no confronto."
Folha - Por que traficantes
queriam matá-lo?
José Júnior - O que motivou
a carta foram mediações que
fizemos. 99% do que a carta
diz é verdade no que diz respeito ao Afroreggae. Duas
pessoas ficaram muito incomodadas. Uma delas havia
me ajudado a mediar muitas
coisas. Até enviar a carta, foi
para mim um facilitador para
mediar muitos conflitos. Foi
uma decepção. Não que não
esperasse uma coisa dessas
do crime, mas dessa pessoa.
Quando vem de alguém que
você tem contato, que, mesmo sendo bandido, sempre
teve uma postura de não ir
para o confronto, gera uma
decepção muito grande. Depois disso, acontecem esses
ataques. E, por eu estar como
alvo, sabia que, se a carta
chegasse ao Marcinho VP, líder do CV na cadeia, ele não
autorizaria que me matassem. Acho que ele não autorizou esses ataques também.
Foi coisa de algumas pessoas
do tráfico, não de todas.
Como decidiu ir negociar a
rendição?
No início, me senti desmotivado a mediar por ser alvo.
Anteontem recebi recados.
Foram três telefonemas perguntando se existiria possibilidade de negociação. Eu disse que só a rendição completa e total. "Não existe uma alternativa?", me perguntou
um deles. Primeiro, disse que
não me cabia isso. Havia falado com o Allan Turnovski [diretor de Polícia Civil]. Ele disse que a polícia garantia que
não esculacharia nem mataria ninguém, se eles se entregassem sem confronto.
Os traficantes, ficou claro
agora, não queriam confronto. Sempre que fui mediar,
nunca tinha sido alvo. Meus
amigos policiais diziam que
eu não deveria ir ao Alemão.
Já que havia uma bronca
contra mim.
Minha ida lá foi porque os
moradores me pediam o tempo todo, os traficantes me pediam também. Posso ser mal
interpretado e é tudo o que os
reacionários querem ouvir:
eu não queria que os bandidos morressem. A verdade é
essa. Não é um exercício de
generosidade, bondade,
mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém. Eu fui para o risco. Deixei um e-mail até para o governador dizendo que eles
não tinham responsabilidade e que eu assumia o risco.
O que encontrou?
O governo cansou os caras. Inteligentemente. Encontrei um grupo arrasado
emocionalmente. Eles não
demonstravam interesse no
confronto naquele momento. Eu disse que a polícia tinha interesse de prender todos vivos, sem confronto.
Estavam conscientes do
aparato militar. Foquei muito na vida e na morte. Disse
que, se eles atacassem, iriam
morrer. Fui falar das alternativas que tinham: se entregar
ou se entregar. Abandonar as
armas. É bom deixar claro o
que é esta negociação. Não
propusemos nada em troca.
Quando eles disseram que
não se entregariam?
Ninguém falou isso. Várias
pessoas se entregaram. Os
caras tentam fugir. Não deu,
se entregam.
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