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SAÚDE MENTAL
Conselho discute na quarta-feira programa de moradias terapêuticas para tirar doentes mentais de hospícios
Brasil quer criar repúblicas de loucos
AURELIANO BIANCARELLI
NOELLY RUSSO
da Reportagem Local
O Brasil prepara um programa
para tirar os "loucos" dos hospícios e instalá-los em casas e repúblicas espalhadas pelas cidades do
país. O doente mental deixará de
ser um tutelado da instituição hospitalar para tornar-se um cidadão
de sua rua, com direito a tomar
ônibus, fazer compras e beber um
cafezinho na padaria.
O programa de moradia ou casas
terapêuticas -como são chamadas essas "repúblicas de loucos"- pode beneficiar cerca de
20 mil pacientes "cronificados".
São aqueles que estão internados
há mais de seis meses, ou até anos,
e que não têm mais razões para
continuar dentro dos muros dos
hospitais. Sem referências familiares, no entanto, a grande maioria
não tem para onde ir.
O programa deve ser analisado
na reunião do Conselho Nacional
de Saúde que acontece nesta quarta-feira. A proposta consiste em
repassar verba do Ministério da
Saúde para a manutenção das casas e repúblicas pelos Estados e
municípios.
Se o programa atender 12 mil
pessoas, 4.000 casas e repúblicas
de loucos se espalharão pelo país.
Eles voltarão a conviver com a sociedade -segundo os especialistas, a melhor forma de reduzir
seus sofrimentos e reintroduzi-los
na sociedade.
Teste
A tese já vem sendo provada
com sucesso em alguns municípios de São Paulo e em outros Estados.
Em Campinas, oito casas estão
implantadas na cidade, a primeira
delas desde 1992. Os "loucos" se
entendem com os vizinhos, fazem
as compras e cuidam da casa. A
república é monitorada pelo hospital psiquiátrico por meio de um
terapeuta.
Ribeirão Preto já tem pacientes
instalados em casas próprias,
compradas por eles mesmos em
conjuntos habitacionais. E há projetos de incluir, nos conjuntos habitacionais, unidades destinadas
exclusivamente a esses pacientes.
Em São Paulo, um serviço da Secretaria de Estado da Saúde já intermediou o aluguel de duas repúblicas para loucos.
Avanço
As repúblicas assistidas são o estágio mais avançado de um programa de desospitalização que começou com casas montadas dentro dos muros dos manicômios.
Nessa fase estão hospitais como o
de Santa Rita do Passo Quatro e o
de Franco da Rocha.
O país tem cerca de 60 mil leitos
psiquiátricos em 250 hospitais espalhados pelo país. O Ministério
da Saúde gasta cerca de R$ 400 milhões por ano em internações de
psiquiatria. Pelo menos 30% das
vagas hospitalares estão ocupadas
por pacientes "moradores".
Só na Grande São Paulo, 2.000
pacientes poderiam deixar os manicômios, afirma Luezemir Lago,
coordenadora de saúde mental da
Secretaria da Saúde.
O programa de moradias conta
com o apoio do Conselho Nacional da Saúde, órgão que estabelece
as políticas do governo para o setor. A proposta é repassar dinheiro para os Estados e municípios de
forma que possam alugar as casas
e oferecer a atenção necessária aos
moradores.
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