São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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SAÚDE MENTAL
Conselho discute na quarta-feira programa de moradias terapêuticas para tirar doentes mentais de hospícios
Brasil quer criar repúblicas de loucos

AURELIANO BIANCARELLI
NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

O Brasil prepara um programa para tirar os "loucos" dos hospícios e instalá-los em casas e repúblicas espalhadas pelas cidades do país. O doente mental deixará de ser um tutelado da instituição hospitalar para tornar-se um cidadão de sua rua, com direito a tomar ônibus, fazer compras e beber um cafezinho na padaria.
O programa de moradia ou casas terapêuticas -como são chamadas essas "repúblicas de loucos"- pode beneficiar cerca de 20 mil pacientes "cronificados".
São aqueles que estão internados há mais de seis meses, ou até anos, e que não têm mais razões para continuar dentro dos muros dos hospitais. Sem referências familiares, no entanto, a grande maioria não tem para onde ir.
O programa deve ser analisado na reunião do Conselho Nacional de Saúde que acontece nesta quarta-feira. A proposta consiste em repassar verba do Ministério da Saúde para a manutenção das casas e repúblicas pelos Estados e municípios.
Se o programa atender 12 mil pessoas, 4.000 casas e repúblicas de loucos se espalharão pelo país. Eles voltarão a conviver com a sociedade -segundo os especialistas, a melhor forma de reduzir seus sofrimentos e reintroduzi-los na sociedade.

Teste
A tese já vem sendo provada com sucesso em alguns municípios de São Paulo e em outros Estados.
Em Campinas, oito casas estão implantadas na cidade, a primeira delas desde 1992. Os "loucos" se entendem com os vizinhos, fazem as compras e cuidam da casa. A república é monitorada pelo hospital psiquiátrico por meio de um terapeuta.
Ribeirão Preto já tem pacientes instalados em casas próprias, compradas por eles mesmos em conjuntos habitacionais. E há projetos de incluir, nos conjuntos habitacionais, unidades destinadas exclusivamente a esses pacientes.
Em São Paulo, um serviço da Secretaria de Estado da Saúde já intermediou o aluguel de duas repúblicas para loucos.

Avanço
As repúblicas assistidas são o estágio mais avançado de um programa de desospitalização que começou com casas montadas dentro dos muros dos manicômios. Nessa fase estão hospitais como o de Santa Rita do Passo Quatro e o de Franco da Rocha.
O país tem cerca de 60 mil leitos psiquiátricos em 250 hospitais espalhados pelo país. O Ministério da Saúde gasta cerca de R$ 400 milhões por ano em internações de psiquiatria. Pelo menos 30% das vagas hospitalares estão ocupadas por pacientes "moradores".
Só na Grande São Paulo, 2.000 pacientes poderiam deixar os manicômios, afirma Luezemir Lago, coordenadora de saúde mental da Secretaria da Saúde.
O programa de moradias conta com o apoio do Conselho Nacional da Saúde, órgão que estabelece as políticas do governo para o setor. A proposta é repassar dinheiro para os Estados e municípios de forma que possam alugar as casas e oferecer a atenção necessária aos moradores.




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