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GILBERTO DIMENSTEIN
Dinheiro que cai do céu
Para melhorar a seleção de
seus funcionários, a empresa
aérea TAM decidiu incluir um
novo critério -a taxa de bondade social dos candidatos.
O Departamento de Recursos
Humanos sinaliza preferência
a quem exerça trabalhos comunitários voluntários.
Por trás do critério há um raciocínio prático, longe dos
dons celestiais: os indivíduos
que apreciam a filantropia teriam melhor preparo para lidar com o público.
Logo, seriam apreciados pela
clientela comercial, atraindo
satisfação e, por consequência,
lucro.
"É um bom negócio para o
país uma empresa estimular
trabalho comunitário. Mas
também é um bom negócio para nossa empresa" afirma Rolim Amaro, dono da TAM.
Exceção?
Especialista em estudos de filantropia, o professor Stephen
Kanitz, da Faculdade de Administração da Universidade
de São Paulo, está convencido
de que a tendência veio para
ficar.
Kanitz também conhece o
outro lado do "balcão"; por vários anos, editou publicação
intitulada "Maiores e Melhores", com uma análise do desempenho das empresas brasileiras.
Ele detecta crescente número
de empresas incluindo na seleção o quesito responsabilidade
social -especialmente entre
empresas multinacionais.
Na era da economia dos serviços, o sorriso do funcionário
é a diferença entre ganhar ou
perder um cliente.
"Funcionários que têm prazer em servir o público valem
ouro no atual estágio da economia", diz ele.
Se o indivíduo gosta de servir
numa situação de extrema escassez, com crianças, mulheres
ou idosos no limite do desespero, certamente terá menor dificuldade de se adaptar numa
empresa; ali, vai contar com
mais recursos.
O estresse ambiental não vai
parecer tão devastador para
quem se dispõe a brigar numa
favela ou numa creche.
Tem lógica? Tem.
A tendência é, agora, captada em números mais precisos.
Foi concluída neste mês a
mais abrangente pesquisa já
realizada no Brasil com dirigentes e altos funcionários dos
mais variados tipos de empresas, escolas e mídia sobre o
perfil ideal do trabalhador -o
levantamento foi assessorado
pelo professor José Pastore, um
dos maiores especialistas brasileiros em tendências do mercado de trabalho.
No item "habilidades", a vocação comunitária apareceu
com destaque. Na parte sobre
personalidade, deu "ser ético",
quase empatado com o primeiro colocado ("ser flexível").
É, assim, uma característica
que passa a ser decisiva na hora de conseguir emprego, por
melhorar a qualificação -afinal, faz parte do aprendizado
sobre como lidar com conflitos.
Ainda pouca gente percebe
que está em andamento uma
reviravolta das novas qualificações profissionais.
Em essência, essa mudança
mostra que se tornam indissociáveis cidadania e economia;
estão enterrando os técnicos
supostamente competentes,
mas tapados.
Significa que trabalho voluntário também se aprende na
escola. Não é doação apenas.
Mas conhecer a realidade.
Já há no Brasil grupos de
educadores dispostos a dar crédito escolar, no final do ano,
aos alunos que façam parte de
programas para mudar a vida
de suas comunidades.
O que, diga-se, é uma excelente idéia; até porque vão
aprender mais da realidade do
que lendo muitos livros.
Há anos tenho tido contato
com jovens que realizam serviços comunitários. Dá para perceber rapidamente como desenvolvem o senso de liderança, o gosto por desafios, a ousadia e a articulação.
Deveria ser especialmente
obrigatório nas universidades
públicas.
Seria uma forma de os universitários retribuírem à sociedade a chance que ganharam
de estudar de graça -eles custam por mês algo em torno de
R$ 1.000.
Aliás, nos Estados Unidos há
uma série de universidades
(Harvard, por exemplo) que,
entre suas inúmeras exigências, pedem a ficha de serviços
comunitários dos candidatos.
Para cada 100 alunos que entram na Faculdade de Administração de Harvard, a elite
das elites, 80 desenvolvem projetos em filantropia.
Ao deixar os Estados Unidos,
no início deste ano, saí convencido de que uma das razões
para a grandeza do país é justamente a vocação ao trabalho
comunitário dos seus cidadãos.
Lá, quem não tiver algum tipo dessa atividade é tido como
algo parecido a subcidadão.
Nós, que importamos tantas
tendências idiotas dos países
desenvolvidos, bem que poderíamos ser influenciados por
essa vocação.
PS - Preparei uma pasta com
artigos relacionando voluntariado e emprego. Além de artigos, sites: um deles informa
qual a entidade mais próxima
de seu trabalho ou casa. O material está na página do aprendiz, onde se pode encontrar a
íntegra da pesquisa realizada
com formadores de opinião sobre o trabalhador do amanhã.
E-mail: gdimen@uol.com.br
Aprendiz: www.aprendiz.com.br
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