São Paulo, Quarta-feira, 29 de Dezembro de 1999


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ACIDENTE
Vítimas eram mulheres, crianças e adolescentes; duas garotas, de 10 e 13 anos, estão em estado grave
Seis morrem em desabamento em Olinda

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Olinda

Seis pessoas morreram e dez ficaram feridas em consequência do desabamento de um prédio de quatro pavimentos ocorrido no final da tarde de anteontem, em Olinda, no Grande Recife (PE).
Até o final da tarde de ontem, as equipes de resgate ainda procuravam sob os escombros a professora Josilda Leite Matias Delgado. Cerca de 50 homens da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar vasculhavam o local.
O desabamento foi o segundo ocorrido em menos de dois meses no mesmo bairro -Jardim Fragoso, de classe média baixa. Em novembro, quatro pessoas morreram na queda do edifício Éricka, localizado a 600 m de onde ocorreu o acidente de anteontem.
O prédio, erguido há quase nove anos, fazia parte do conjunto residencial "Enseada de Serrambi", formado por dois blocos com 24 apartamentos no total. O bloco B, que desmoronou, tinha oito.
Das 27 pessoas que moravam no bloco, 14 estavam em casa no momento do acidente, segundo a Defesa Civil. Outras três pessoas visitavam amigos no local. Mulheres, crianças e adolescentes foram maioria entre as vítimas. Só dois homens estavam no prédio.
O desmoronamento ocorreu às 17h10 e as causas ainda são indeterminadas. Segundo testemunhas, o edifício inclinou para um dos lados e ruiu sobre sua base.
"Foi tudo muito rápido, só ouvi aquela zoada e a poeira levantando", disse o comerciante Manoel Feliciano de Medeiros Júnior, 39, primeiro a chegar ao local.
Medeiros Júnior ajudou a resgatar quatro moradores, entre eles a estudante Kaiane Carneiro Gomes, 10, que teve uma das pernas amputadas e continua internada na UTI do Hospital da Restauração, em Recife, em estado grave.
Além dela, também permanece em estado grave a adolescente Camila da Fonseca, 13, que sofreu politraumatismo. Das dez pessoas hospitalizadas, apenas três haviam recebido alta até ontem.
O trabalho das equipes de resgate começou cerca de meia-hora após o acidente. As primeiras mortes, porém, só foram confirmadas na madrugada de ontem. Às 2h, três corpos de uma mesma família foram encontrados.
As vítimas, Nadja Maria da Silva Queiróz, 28, sua filha Manoela Cristina, de 4 meses, e a tia do bebê Andréa Maria da Silva, 21, estavam próximos um do outro, sob lajes de concreto.
A outra filha de Nadja, Gabriela Cristina, 4, foi encontrada com vida no início da manhã, mas morreu à tarde, no hospital Prontolinda, cerca de uma hora após ser retirada dos escombros, em uma operação de resgate que durou cerca de sete horas.
As outras duas vítimas fatais foram Joana Paula Azevedo, 17, e seu amigo Roberto Godói Sabóia, 16, parente de um dos sócios da Conipa, empresa responsável pela construção do prédio.
Em entrevista coletiva, um dos sócios da construtora, Francisco Godói, disse ontem que desconhecia as causas do desabamento e que estava, "graças a Deus, com a consciência tranquila".
O presidente eleito do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) de Pernambuco, Telga de Araújo Filho, visitou o local do acidente e afirmou que não havia ainda como definir as causas do desabamento.
"Qualquer pronunciamento, hoje, seria leviano", afirmou. Segundo ele, a construção do prédio passou por todos os trâmites legais, "incluindo a sondagem do solo, que define os cuidados a serem tomados na obra".
Araújo Filho participou de uma reunião com representantes da Prefeitura de Olinda, da Defesa Civil e da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), onde foram traçadas estratégias para melhorar a fiscalização dos prédios erguidos na cidade.
Segundo o presidente do Crea, técnicos realizarão um levantamento dos edifícios do tipo "caixão" construídos em Olinda, a partir do Jardim Fragoso, onde ocorreram os acidentes. Os prédios desse tipo não possuem área aberta embaixo. O térreo já é formado por apartamentos.


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