São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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TRANSPORTE

Obras não devem terminar até o fim do mandato da prefeita Marta Suplicy; secretaria não explica aumento de custos

Fura-Fila atrasa e já custa mais de R$ 400 mi

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele ganhou nome novo, teve suas características alteradas, mas dificilmente será finalizado no primeiro mandato da prefeita Marta Suplicy (PT) e deve ter seu custo final próximo ao da extensão de 2,8 km da linha 2-verde do Metrô, entre a estação Ana Rosa e a futura estação Imigrantes.
As obras do Fura-Fila, bandeira do ex-prefeito Celso Pitta batizada de Paulistão pela gestão petista, já consumiram até agora R$ 318 milhões, de acordo com valores levantados e atualizados pela assessoria do vereador Roberto Tripoli (PSDB), com base no sistema de execução orçamentária -a Secretaria Municipal dos Transportes foi contatada desde segunda-feira para esclarecer essa informação, explicar os motivos e os prazos oficiais, mas não deu respostas até ontem à noite.
O resultado de uma nova licitação, publicado no último dia 24 no "Diário Oficial", prevê mais R$ 143,8 milhões para as "obras remanescentes da ligação Parque Dom Pedro-Sacomã", valor que eleva os custos finais do empreendimento a R$ 461,8 milhões (ou R$ 411,9 milhões se for desconsiderada a correção inflacionária).
Esses valores superam e muito os que foram divulgados nos últimos anos -e surpreendem por se tratar de um transporte de média capacidade sobre pneus, defendido por técnicos por ser geralmente muito mais barato do que as opções sobre trilhos.
Essa verba equivale a quase seis vezes a soma dos modernos corredores Pirituba e São João, inaugurados em dezembro de 2003.
Em 1998, com base nos contratos assinados com a construtora Queiroz Galvão, a gestão Pitta dizia que os 8,5 km da ligação Parque Dom Pedro-Sacomã custariam R$ 147 milhões -que, por valores atualizados com base no IPC-Fipe, seriam hoje próximos de R$ 210 milhões.
Em outubro de 2001, a gestão Marta anunciou que levaria a linha até São Mateus, num total de 22,5 km. Anunciava ainda mudanças no projeto para "reduzir os gastos" (os ônibus a eletricidade seriam substituídos por híbridos e as canaletas seriam retiradas). A totalidade sairia por R$ 288 milhões, que, atualizados, chegam hoje a R$ 345 milhões.
O resultado é que nada ainda está concluído (nem os 8,5 km iniciais nem os 22,5 km totais) e os gastos já superaram a previsão. No mês passado, a Folha mostrou que os trechos da obra na avenida do Estado foram transformados em depósito de entulho. Os alojamentos dos operários, em moradia para sem-teto.
Na gestão Pitta, a promessa era fazer a entrega em seu mandato. A gestão Marta chegou a planejar uma inauguração às vésperas do aniversário de 450 anos de São Paulo. O recente edital para as "obras remanescentes", entretanto, estabeleceu um prazo contratual de mais 18 meses.
Uma das sinalizações de que não há perspectiva de término na atual administração foi a decisão da prefeitura de transferir para os corredores convencionais, a partir de março, os 15 ônibus híbridos (que combinam motores a diesel com eletricidade) comprados no ano passado especialmente para rodar no Fura-Fila.
A retomada da obra deixada inacabada por Pitta era um compromisso de campanha de Marta. "Deixar carcaças paradas no meio da rua é desperdiçar dinheiro público", dizia ela em junho de 2000.
Em seu primeiro mês de mandato, ao saber que os R$ 147 milhões de custo previstos na gestão anterior já tinham subido para R$ 230 milhões, a prefeita criticou seus antecessores Pitta e Paulo Maluf. "Mas esqueleto em meu governo não vai ter", afirmou.
"O dinheiro já gasto nesse esqueleto seria suficiente para construir 10 mil moradias populares", rebateu ontem Tripoli.


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