São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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BARBARA GANCIA

De volta à estaca zero

Um pouco por dever de ofício, um pouco por curtição e com uma ponta de inveja dos festejos do quarto centenário de São Paulo, data em que a cidade ganhou de presente nada menos do que o parque Ibirapuera, fui à apresentação, no sábado à noite, da fonte luminosa no lago do "meu" parque.
Digo que ele é meu pois, durante 23 anos, morei em uma avenida que faz fronteira com o Ibirapuera e aprendi a tratar o parque como quintal da minha casa.
Adoraria ter a sensibilidade de um Tom Zé, que só viu belezura nas comemorações da nossa São São Paulo. Infelizmente, sou forçada a confessar que saí da apresentação como uma Rita Lee cantando "Garota de Ipanema".
O show de águas dançantes, marcado para as 20h, só teve início às 20h40. E as pessoas ao meu redor, que já tinham começado a falar em "desrespeito" e "falta de consideração", agora reclamavam da presença de um balão luminoso da Kaiser, que impedia todo o público posicionado na parte do lago que olha para a avenida República do Líbano de assistir o espetáculo.
Assim que a fonte começou a jorrar, me deu uma saudade lacrimosa do show de águas dançantes do circo Orlando Orfei, que costumava se apresentar na cidade nos anos 60. Preciso dizer mais? Note que, naquela época, não existia esse negócio de programa de computador.
Uma queima de fogos muito da merreca encerrou o espetáculo e, na hora em que eu me dirigia, cabisbaixa, para o meu carro, uma senhora passou por mim dizendo que, em vez da fonte, preferia um desconto no Pão de Açúcar. Um leitor me escreveu no dia seguinte para reclamar que o desenho da fonte faz jorrar o logotipo do Pão de Açúcar. Ora, os dois jatos d'água de antes também não compunham o mesmíssimo logo?
 
Não disse que ela merecia uma estátua em praça pública? Bastou a ministra Emília Fernandes falar em planejamento familiar para ser ejetada do cargo. O discurso do governo mudou de tal maneira que, agora, quando o assunto são as formas de controle da fecundidade, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, prefere citar a velha lenga-lenga da igreja e dizer que não se deve "diminuir o número de participantes no banquete, e sim aumentar a oferta de alimentos".
Ora, ora. Será que as convicções religiosas do ministro Ananias podem ocultar o fato de que, a cada minuto, nascem crianças indesejadas no país?

QUALQUER NOTA

Inversão de valores
Não entendi nada. Na chegada a Minas, 277 brasileiros deportados dos EUA foram recebidos como heróis e homenageados com o hino. Será que eles ganharam alguma competição esportiva e só as famílias ficaram sabendo ou tentaram entrar ilegalmente em outro país?

Quanta consideração!
A American Airlines quer mesmo deixar claro o seu apreço pelos brasileiros. Em vez de impedir o embarque do turista norte-americano embriagado que acabou preso em Cumbica, a empresa tratou de fazê-lo seguir viagem pela Varig. E o piloto do dedo em riste, será que já foi exonerado?

E-mail - barbara@uol.com.br
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