São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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TRANSPORTES

Dormentes foram colocados na linha que leva ao centro de São Paulo; cinco pessoas tiveram ferimentos leves

Vandalismo causa descarrilamento de trem

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dormentes (peças de madeira) colocados antes de um aparelho de mudança de via provocaram o descarrilamento de um trem na manhã de ontem, na cidade de São Paulo.
Dois vagões do veículo, que transportava 2.400 passageiros em direção ao centro, na linha B (oeste) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), saiu dos trilhos a 500 m da estação Imperatriz Leopoldina (zona oeste), às 4h55.
Cinco pessoas tiveram ferimentos leves e foram levadas para o pronto-socorro da Lapa.
Para o diretor-presidente da CPTM, Mário Bandeira, o posicionamento dos dormentes foi um ato da "vandalismo" que precisa de punição. "Quem coloca dormentes antes de um material de bifurcação é um criminoso."
"É impossível nós cobrirmos 230 km de linha férrea. A sociedade também precisa colaborar no combate ao vandalismo. Só assim nós vamos tornar o sistema de transporte mais confortável e mais seguro", disse Bandeira sobre a segurança das vias.
O prejuízo causado pelo acidente, segundo a estimativa de Bandeira, será de R$ 5 milhões. "Mas o pior é o prejuízo causado aos passageiros", disse.
Pela linha B da CPTM, que compreende 20 estações -de Itapevi a Júlio Prestes-, passam 260 mil usuários por dia.
Como o trecho atingido ficou bloqueado até o final da tarde, a CPTM solicitou à Secretaria Municipal de Transportes 40 ônibus do Paese (Plano de Apoio às Empresas em Situações de Emergência) para atender aos usuários. No entanto, a requisição foi feita somente às 5h40, 45 minutos depois do acidente.
O sargento da Polícia Militar Evaldo José Dias, que chefiava uma equipe de assistência aos usuários na estação, disse que, minutos depois do descarrilamento, o número de ônibus não era suficiente para atender a todos os passageiros. "Foi um tumulto. O período mais complicado foi entre as 6h e as 8h30."
Segundo a CPTM, os veículos não conseguiram "atender à demanda a contento" por causa do horário, de muita movimentação. "Os ônibus ainda estavam atendendo outro grupo nas ruas", disse o diretor-presidente.
Em nota oficial, a SPTrans diz que "atendeu prontamente a solicitação [da CPTM], determinando às empresas que compõem o sistema que deslocassem veículos para a região de contingência".
"Todos os ônibus deslocados para atender à solicitação estavam com as portas liberadas para o ingresso de passageiros. Diante da demanda crescente nas estações da CPTM, a empresa estadual solicitou, às 9h50, outros dez veículos. O pedido foi também prontamente atendido pela SPTrans."

Atraso
Sem ônibus nem trem, os passageiros se atrasaram para o trabalho. A pesquisadora de mercado Martinha Marques de Oliveira, 63, usuária da linha de trem, contabilizava mais de três horas de demora. Moradora de Itaquaquecetuba, ela precisa pegar ônibus, trem e metrô até chegar à empresa em que trabalha, em Pinheiros.
"Normalmente eu demoro duas horas e meia até chegar à empresa, mas hoje eu ainda estou na metade do caminho e já perdi quase três horas. E o pior é que, como trabalho com vendas, estou perdendo dinheiro", diz.
O agente de atendimento Rogério Pompílio da Silva, 31, também se atrasou. Geralmente ele chega ao trabalho em uma hora e meia. Na metade do caminho, sem trem, além de não saber que direção tomar, Silva tinha perdido mais de duas horas. "Eu já estou uma hora e 15 minutos atrasado e não senti segurança no que me disseram. Acho que eles não estão abastecidos de informações", disse sobre os funcionários da SPTrans que foram deslocados para o local.

Recuperação
O trecho entre as estações Imperatriz Leopoldina e Presidente Altino ficou totalmente interrompido até as 17h45, quando foi liberada a via 1 da linha e interrompida a operação Paese.
A via 2 deverá ser liberada às 4h40 de hoje. Cerca de 150 homens trabalharam na recuperação dos trilhos e dormentes e na retirada do trem.
Em condições normais, o tempo de intervalo entre cada trem é de sete minutos.
Com apenas uma linha, a CPTM informou que trabalha com a margem de tempo de 15 minutos entre os trens.


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