São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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MAPA DA VIOLÊNCIA

Taxas ainda são altas, afirmam analistas

Número de homicídios é elevado em comparação com outros países; estudiosos alertam sobre crime no interior do país

Enquanto o Brasil registra 25 homicídios por 100 mil habitantes, em 2002 o Equador teve 16,2 mortes violentas por 100 mil

FÁBIO TAKAHASHI
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil deve comemorar a queda no número de homicídios mostrada pelo documento "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008", mas as taxas ainda são muito altas se comparadas às de outros países. É o que afirmam especialistas que estudam o tema.
Entre 2003 e 2006, o número de homicídios por ano no Brasil caiu de 50.980 para 46.660 (variação de 8,5%).
"A redução está ocorrendo de forma consistente. As taxas, porém, ainda são muito elevadas, principalmente se comparadas com outros países", afirma a diretora-executiva do Ilanud (órgão da ONU sobre delitos e tratamento do delinqüente), Paula Miraglia.
Dados coletados pela Organização Mundial da Saúde em anos diferentes reforçam a impressão de que a violência brasileira ainda é alta.
Enquanto no Brasil a taxa de homicídios por 100 mil habitantes está na casa dos 25 casos, no Equador estava em 16,2 em 2002; na Argentina, em 6,8 registros; nos EUA, em 6,2; e no Canadá, em 1,5.
O cientista político Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), lembra que a queda no número de homicídios não leva necessariamente a uma diminuição da violência.
"O homicídio é apenas um dos vários indicadores da violência", afirma. "João pode ter sido assaltado, levado um tiro e ficado paraplégico, mas vivo. Ele não entrou nas estatísticas de homicídio, embora tenha praticamente perdido a vida", afirma Zaverucha.
O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Testa chama a atenção para o fato de os homicídios serem altos em cidades pequenas, no interior do país.
"Nos últimos anos, as quadrilhas têm passado a realizar assaltos em cidades pequenas. A polícia é ineficiente no interior. O poder público não consegue acompanhar esse movimento."

Poder público
Roberto Aguiar, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (1995-98) e do Rio de Janeiro (2002), também responsabiliza os governantes pelos índices de violência registrados no Brasil.
"Têm uma visão estreita de segurança pública. Acham que basta colocar mais policiais nas ruas ou construir penitenciárias. Isso é primitivo", diz Aguiar, que é professor da UnB.
A violência, ele continua, deve ser combatida de forma multidisciplinar, envolvendo várias instâncias de governo (e não apenas a Secretaria de Segurança) e a própria sociedade.
Para Paula Miraglia, do Ilanud, dois fatores podem ter contribuído para a diminuição da violência no país: a campanha pelo desarmamento e as ações dos próprios municípios.
"A valorização das ações locais é uma tendência mundial. Aqui, começou a despertar em 2001", afirma.
"Em uma cidade, o problema pode ser o tráfico de drogas. Em outra, o crime de vingança. Cada município deve ter ações específicas", acrescenta ela.
O pesquisador do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da USP) Marcelo Batista Nery afirma que o estudo divulgado ontem é importante para verificar a tendência da violência no país, mas ressalta que a diferença de tamanho entre os municípios prejudica as comparações entre as cidades.
Em cidades pequenas, diz, algumas poucas mortes já podem inflar a taxa de homicídios.


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