São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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Paulo Lélis e a voz do Ceará

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Havia uma voz grave com sotaque e "jeitinho cearense" que ecoava todos os dias, no rádio e na televisão, anunciando as palhaçadas de Coxinha, de Vandergleison, de Chico Pezão. Voz rouca de fumar e beber que anunciava canções melosas -das mais ouvidas de Fortaleza.
Era a de Paulo Lélis, nascido e criado na capital, formado pela metade em administração e radialista há cerca de 30 anos -desde quando deixou de ser contínuo para fazer um bico na rádio Povo.
Foi para a Verdes Mares e, em pouco mais de um ano, virou coordenador de programação da rádio AM 810 Verdinha -sempre que surgia um problema, acendia um cigarro e dizia: "Vamos conversar". Desde 1987, era o narrador do humorístico "Nas Garras da Patrulha".
As músicas que o tocavam, no rádio, eram melosas e vinham "Do Fundo do Meu Coração", como a sua preferida de Roberto Carlos.
Depois de horas trabalhando, chegava em casa com um ritual. Acendia um cigarro, sempre Carlton, servia um uísque Teacher's, sempre com gelo, e ligava o rádio para ouvir na poltrona -sempre na Verdinha.
E a vida passou assim, com ele ignorando o câncer que lhe acometeu a língua. O tratamento trouxe aftas dolorosas e levou embora o sabor da comida -"mas não largou o vício nunca", diz a viúva.
O cardíaco Lélis estava em casa na última quarta quando sofreu um infarto fulminante e morreu. Tinha 56 anos. Quem com ele trabalhou diz que "o programa que ele conduzia não vai ter o mesmo humor". Porque os personagens continuam, mas "vai faltar a voz".


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