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Serra defende usar pulseira eletrônica em presos de SP
Para governador paulista, aparelho, que seria usado em presos em regime de semi-liberdade, coibiria novos crimes
Ele fez a defesa do projeto no STF; para críticos, sistema põe em risco a integridade do preso, que poderia ser agredido ao ser descoberto
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo
-Estado que concentra 36% da
população carcerária do país-,
José Serra (PSDB), defendeu
ontem, no STF (Supremo Tribunal Federal), a colocação de
pulseiras e tornozeleiras eletrônicas em presos em regime
semi-aberto para mantê-los
permanentemente localizáveis
e coibir novos crimes.
A proposta polêmica também é discutida pelo CNPCP
(Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária) -órgão consultivo do governo-,
mas não há consenso nem entre os membros do órgão.
A principal crítica é de que a
medida poderia se tornar uma
invasão de privacidade e um
risco à integridade do preso,
que poderia ser agredido na rua
ao ser descoberto. O controle
seria, segundo críticos da medida, "inquisitorial".
Pela proposta, presos usariam pulseiras ou tornozeleiras
com sensores de localização. Os
sinais seriam transmitidos, via
satélite, para um banco de dados, que controlaria a movimentação do detento.
"Ter um controle eletrônico
facilitaria muito o trabalho da
segurança. Essa é uma medida
que estou defendendo, que vou
implantar em São Paulo. Estamos estudando para ver se é necessária uma lei federal a esse
respeito ou se simplesmente
pode ser feito", afirmou Serra.
Ontem, o governador defendeu a medida em um encontro
com o presidente interino do
STF, ministro Gilmar Mendes.
"Mencionei uma questão de
interesse geral, uma idéia de
que seja possível colocar pulseiras de controle eletrônico
em presos em regime semi-aberto para efeito de poder
controlar melhor aquele que
está condenado à prisão, mas
está no regime semi-aberto.
Muitos deles vão para o crime
durante esse período", disse.
Serra disse que estuda a
eventual necessidade de aprovação de lei federal autorizando a utilização do sistema. Para
ele, não há nenhuma inconstitucionalidade na medida. Segundo Serra, Mendes mostrou-se simpático à idéia. "Ele acha
que é uma medida positiva."
O monitoramento eletrônico
de presos é discutido pelo Congresso e pela CNPCP desde
2001, mas não saiu do papel. No
começo do ano, porém, a proposta voltou a ser analisada no
conselho nacional.
Ministério da Justiça
O Ministério da Justiça não
definiu nenhuma posição, mas
alguns técnicos são favoráveis à
implantação da medida. Entre
eles, o diretor do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), Maurício Kuehne, que
também é membro do CNPCP.
"Eu entendo que a medida é
perfeitamente exequível", disse Kuehne. Ele defende que a
medida seja implantada para
delitos médios, e não para crimes hediondos. "Por prudência, os Estados não devem adotar essa medida até a definição
da questão pelos órgãos técnicos." Segundo ele, o custo aproximado do sistema seria de R$
600,00 mensais por preso.
O Conselho Nacional deve
aprovar um parecer, favorável
ou não à medida, em reunião
marcada para meados de abril.
A proposta deve enfrentar resistência no órgão.
Inquisição
Para Carlos Weis, membro
do conselho e corregedor-geral
da Defensoria Pública de São
Paulo, a medida é uma violação
da intimidade e um risco à integridade do preso. "Se a tornozeleira for descoberta, por exemplo, o preso pode até ser linchado na rua. Esse é um dispositivo
inquisitorial."
Segundo ele, é precisa haver
mudanças na legislação penal.
Weis afirma que, se a implantação da medida ocorrer sem essas alterações, o governo paulista deve ser acionado na Justiça pela Defensoria Pública.
O monitoramento eletrônico
de presos é usado em países como os Estados Unidos e a Inglaterra. No começo do ano, o sistema foi usado contra dois dirigentes da Igreja Renascer em
Cristo Estevam e Sonia Hernandes. Presos por contrabando de dinheiro, eles foram colocados em liberdade em território norte-americano, mas monitorados eletronicamente.
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