São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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PF investiga suspeitos por ataque contra africanos

A partir de hoje, Polícia Federal vai ouvir oito testemunhas do ato na UnB

Os cinco acusados também são moradores do alojamento estudantil da Universidade de Brasília, onde ocorreu o incidente

PRISCILA ROSSITER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A partir de hoje, a Polícia Federal vai ouvir oito testemunhas do ataque contra dez estudantes africanos, ocorrido na madrugada de anteontem, no câmpus da UnB (Universidade de Brasília). Os acusados pelo ataque devem ser ouvidos pela Polícia Civil do Distrito Federal a partir da próxima segunda-feira. De acordo com o delegado da Polícia Civil Rogério Borges Cunha, responsável pelo caso, são cinco os suspeitos, todos moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU), onde ocorreu o atentado. A polícia investiga agora se ele foi ou não motivado por racismo e xenofobia.
Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Federal informou que "não se pode trabalhar prematuramente com a hipótese de racismo". No incidente, as portas de três apartamentos ocupados pelas vítimas na CEU, que fica dentro do câmpus, foram incendiadas e os extintores de incêndio de dois andares do prédio foram esvaziados, mas não houve feridos.
O ato causou comoção e cerca de 400 estudantes fizeram uma passeata anteontem. Dos 26 mil alunos matriculados na UnB, 400 são estrangeiros -22 deles africanos-, recebidos por meio de acordo de cooperação internacional do governo brasileiro.

Hotel
Depois da reunião dos alunos da universidade com o reitor Timothy Mulholland, 16 dos 22 estudantes africanos foram transferidos para um hotel. Para a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o incidente não teve relação com a declaração da ministra Matilde Ribeiro, que afirmou ser "natural" o racismo de negros contra brancos, por causa da opressão histórica.
As vítimas do incidente, todos de Guiné-Bissau, fizeram uma denúncia também no Ministério Público. A promotora Laís Cerqueira Silva afirmou que, caso seja comprovada a natureza racista do ato, poderão ser abertos uma ação penal e um processo contra os autores do crime. Se for confirmado o crime de racismo, os acusados podem ser condenados a penas um a três anos de prisão. Já a punição prevista pelo incêndio varia de quatro a oito anos de reclusão, de acordo com o Ministério Público.

"Vergonhoso"
Representantes do Congresso Nacional estiveram ontem na UnB buscando informações sobre o caso. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, classificou ontem o episódio como "vergonhoso" e "muito grave". Ele disse que as investigações serão acompanhadas de perto para mostrar que não haverá impunidade. "Há poucos momentos na vida em que você sente uma vergonha coletiva", afirmou.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília


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