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Guia traz roteiros para deficientes em dez capitais
Cadeirante reúne 11 repórteres para escrever as dificuldades de acessibilidade
Livro testa adaptabilidade em restaurantes, hotéis, bares e pontos turísticos como o Pelourinho, o Cristo e o sítio histórico de Olinda
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A fonoaudióloga cadeirante
Andréa Schwarz, 32, cansou de
voltar do cinema só para fazer
xixi em casa, depois de ter acreditado nos simbolozinhos dos
guias de programação garantindo acessibilidade para deficientes em lugares públicos.
Em 2001, lançou, ela mesma, o
guia "São Paulo Adaptado",
com o ponto de vista de quem
vive o problema: vendeu 30 mil
exemplares. Agora, foi mais
longe e está publicando a versão turística "Brasil Para Todos", com a situação de adaptabilidade para o deficiente em
dez capitais do país.
"O problema é que, em geral,
quem prepara a programação
dos guias culturais liga para o
restaurante e pergunta ao dono
se o lugar está adaptado para
deficientes. Ele responde que
sim, pensando apenas no básico. Não tem ideia se aquela
rampa é íngreme demais, ou se
o degrauzinho mais baixo também atrapalha", diz Andréa.
"Brasil para Todos" foi elaborado em seis meses por 11 repórteres que transformaram
em texto as observações de 11
deficientes. "Sentamos os repórteres nas cadeiras de rodas
também, para eles entenderem
melhor", explica ela.
Dividido em três partes (onde ficar e comer e aonde ir ), o
guia apresenta checagens de
adaptabilidade em restaurantes, hotéis, bares e pontos turísticos como o Pelourinho, em
Salvador, o Cristo Redentor e o
Pão de Açúcar, no Rio, e o sítio
histórico de Olinda.
Como o guia é extensivo aos
deficientes auditivos, do aparelho motor e cegos, há remissões
específicas. "Uma cadeirante
como eu não pode fazer muita
coisa na floresta amazônica. Já
um cego tem como caminhar,
tocar, sentir o ambiente."
Ela explica que a intenção do
guia não é apresentar um olhar
técnico, mas descritivo. "Não
levamos um arquiteto para medir os degraus ou rampas. E não
bastava ter boas condições de
acesso. Se a comida fosse ruim,
anotávamos", diz.
Um dos capítulos é dedicado
às boas maneiras. Serve para
lembrar, por exemplo, que não
é adequado perguntar de saída
ao cadeirante se "foi acidente".
Especialista
Andréa ficou paraplégica há
dez anos, por causa de um problema congênito que ocasionou um choque medular espinhal. Perplexa desde que passou a "viver a vida na cadeira",
ela se tornou uma especialista
em soluções para deficientes.
Seu marido, o publicitário
Jaques Haber, com quem é casada há sete anos e tem dois filhos (um de dois anos, outro de
dois meses), também abandonou a profissão para acompanhá-la. Juntos, eles fundaram a
I-Social, uma empresa de inclusão social que disponibiliza facilidades para o cumprimento
da lei de cotas para deficientes.
Atendem cerca de cem empresas oferecendo palestras e
cartilhas sobre empregabilidade e recrutabilidade em todo o
país. Já disponibilizaram trabalho para 2.000 deficientes.
Segundo Andréa, a lei de cotas
melhorou a situação financeira
dos deficientes e, com isso, comerciantes passaram a enxergá-los como consumidores.
"Brasil Para Todos" tem tiragem inicial de 8.000 exemplares e vai ser distribuído -não
vendido. O lançamento para o
público é no próximo dia 3, sexta-feira, no Centro de Convenções Imigrantes.
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