São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

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Casas para alugar viram boates no Morumbi

Festas privadas em área estritamente residencial cobram R$ 250 por ingresso; vizinhos reclamam de trânsito e barulho

Prefeitura tem dificuldades de barrar eventos pelo fato de eles ocorrerem numa casa comum, e não numa boate convencional

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do Palácio dos Bandeirantes, veem-se dois feixes de luz rasgar o céu do Morumbi. E, como num efeito de raio e trovão, poucas quadras à frente ouve-se um "tutis-tutis-tutis" de bate-estaca de música eletrônica.
O barulho vem de uma casa de bairro avaliada em alguns milhões de reais na rua General Almério de Moura. É a festa "Buon Giorno" -porque vai até de manhã-, noitada para 2.000 pessoas que, com ingresso a R$ 250, bebida liberada e bufê Fasano, vira boate improvisada.
Essas baladas itinerantes viraram moda no bairro e, dizem os moradores, trouxeram uma série de transtornos à região.
Neste mês houve quatro, duas no último sábado. Pelo zoneamento, a região é "exclusivamente residencial de baixa densidade". Ou seja, não pode nem ter prédios. "O som vai até as 7h. O tráfego fica terrível, o bairro tem engarrafamento em plena madrugada. E é uma arruaça na hora de ir embora", diz o empresário Sérgio Monteiro, vizinho da festa.
Na porta, um desfile de carros importados, mulheres com pinta de modelo e cambistas vendendo sobras de ingresso. Com a fila para deixar as chaves com manobristas e estacionamento dos dois lados da calçada, cruzar os cem metros da rua no trecho da festa levava 25 minutos.
"As pessoas estão abusando. Essas festas são cada vez mais comuns. Chegam a soltar fogos de artifício. É um escândalo", diz Caia Marrey, presidente da associação de moradores.
Para a Subprefeitura do Butantã, o grande número de casas para alugar faz do Morumbi um bom negócio para festas.
"É um caso de polícia. Não tenho instrumentos legais para fechar uma festa na hora. Essas ações da prefeitura são lentas, têm notificações, prazos, possibilidades de defesa", diz o subprefeito Régis de Oliveira.
Promoter da festa "Buon Giorno", Raphael Carneiro não quis conversa. "Se não tenho alvará, por que a prefeitura não foi lá e fechou a festa?" E desligou.
A subprefeitura foi, mas, como não pode fechar, deu duas multas de R$ 1.926, uma por falta de alvará, outra pela venda de ingressos para um evento comercial numa área residencial. As notificações foram assinadas pelo próprio Raphael.
Dono da casa, Ivo Noal, que já foi considerado o maior bicheiro de São Paulo, diz ter alugado o imóvel, anunciado num site para eventos, por R$ 35 mil.
Também realizada no último sábado, a festa "Celebrate" estava na terceira edição no Morumbi e cobrava R$ 120. No site, descreve-se como "festa em casa", um dos subterfúgios, diz a subprefeitura, para driblar a fiscalização. Procurados, os organizadores não responderam.
No começo do mês, os empresários Daniel Nasser, João Bordon e Fabio Tutundjian promoveram a festa "Jungle", a R$ 240. Por meio de suas relações-públicas, informaram que se tratava de uma festa para "amigos" e que foi um evento único que não voltará a ser realizado.


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