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Casas para alugar viram boates no Morumbi
Festas privadas em área estritamente residencial cobram R$ 250 por ingresso; vizinhos reclamam de trânsito e barulho
Prefeitura tem dificuldades de barrar eventos pelo
fato de eles ocorrerem numa casa comum, e não numa boate convencional
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Do Palácio dos Bandeirantes,
veem-se dois feixes de luz rasgar o céu do Morumbi. E, como
num efeito de raio e trovão,
poucas quadras à frente ouve-se um "tutis-tutis-tutis" de bate-estaca de música eletrônica.
O barulho vem de uma casa de
bairro avaliada em alguns milhões de reais na rua General Almério de Moura. É a festa "Buon
Giorno" -porque vai até de manhã-, noitada para 2.000 pessoas que, com ingresso a
R$ 250, bebida liberada e bufê
Fasano, vira boate improvisada.
Essas baladas itinerantes viraram moda no bairro e, dizem
os moradores, trouxeram uma
série de transtornos à região.
Neste mês houve quatro, duas
no último sábado. Pelo zoneamento, a região é "exclusivamente residencial de baixa densidade". Ou seja, não pode nem
ter prédios. "O som vai até as 7h.
O tráfego fica terrível, o bairro
tem engarrafamento em plena
madrugada. E é uma arruaça na
hora de ir embora", diz o empresário Sérgio Monteiro, vizinho
da festa.
Na porta, um desfile de carros
importados, mulheres com pinta de modelo e cambistas vendendo sobras de ingresso. Com
a fila para deixar as chaves com
manobristas e estacionamento
dos dois lados da calçada, cruzar
os cem metros da rua no trecho
da festa levava 25 minutos.
"As pessoas estão abusando.
Essas festas são cada vez mais
comuns. Chegam a soltar fogos
de artifício. É um escândalo",
diz Caia Marrey, presidente da
associação de moradores.
Para a Subprefeitura do Butantã, o grande número de casas
para alugar faz do Morumbi um
bom negócio para festas.
"É um caso de polícia. Não tenho instrumentos legais para fechar uma festa na hora. Essas
ações da prefeitura são lentas,
têm notificações, prazos, possibilidades de defesa", diz o subprefeito Régis de Oliveira.
Promoter da festa "Buon
Giorno", Raphael Carneiro não
quis conversa. "Se não tenho alvará, por que a prefeitura não foi
lá e fechou a festa?" E desligou.
A subprefeitura foi, mas, como não pode fechar, deu duas
multas de R$ 1.926, uma por falta de alvará, outra pela venda de
ingressos para um evento comercial numa área residencial.
As notificações foram assinadas
pelo próprio Raphael.
Dono da casa, Ivo Noal, que já
foi considerado o maior bicheiro de São Paulo, diz ter alugado
o imóvel, anunciado num site
para eventos, por R$ 35 mil.
Também realizada no último
sábado, a festa "Celebrate" estava na terceira edição no Morumbi e cobrava R$ 120. No site,
descreve-se como "festa em casa", um dos subterfúgios, diz a
subprefeitura, para driblar a fiscalização. Procurados, os organizadores não responderam.
No começo do mês, os empresários Daniel Nasser, João Bordon e Fabio Tutundjian promoveram a festa "Jungle", a R$
240. Por meio de suas relações-públicas, informaram que se
tratava de uma festa para "amigos" e que foi um evento único
que não voltará a ser realizado.
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