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MEGAINCÊNDIO
Ianomâmis afirmam que a fundação deveria usar os pajés locais e não caiapós, como será feito
Funai "importa' índios para dança da chuva
ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Boa Vista
Lideranças indígenas de Roraima criticaram ontem a Funai
(Fundação Nacional do Índio) por
se valer de supostos poderes sobrenaturais de dois pajés e duas
crianças da etnia caiapó para fazer
chover na região.
A equipe para celebrar o "ritual
da chuva", liderada pelo cacique
Mengaron, estava sendo aguardada ontem em Boa Vista por funcionários da Funai. Hoje ou amanhã, a equipe será transportada de
avião à reserva ianomâmi.
"Não faz sentido gastar dinheiro
público com algo um tanto absurdo, quando a estiagem e o fogo estão deixando os índios sem ter o
que comer", disse Adalberto Silva,
39, vice-presidente do CIR (Conselho Indígena de Roraima).
Silva diz que teria sido melhor se
a Funai tivesse comprado comida
ou remédio com a verba que será
gasta com a equipe do "ritual da
chuva". "O Mengaron é um funcionário da Funai e certamente os
outros também são e moram em
Brasília", disse o diretor do CIR.
A decisão da Funai deixou perplexos os ianomâmis, que têm
seus próprios xaboris (pajés).
"Nós não vamos entender xabori
caiapó, porque caiapó é uma nação diferente", disse João Davi, 36,
líder da aldeia Papiú Novo (a 285
km de Boa Vista). "Não entendemos por que vão trazer crianças."
Davi, que está sendo iniciado como pajé, disse que sua etnia faz rituais durante os quais recorre aos
"espíritos da natureza" para fazer
chover. "A Funai quer aparecer à
custa de nosso sofrimento. A gente
nem sabia que iam fazer isso."
"Ainda pedimos aos espíritos
para mandar chuva. A Funai podia
reunir os xaboris ianomâmis num
mesmo lugar, e não trazer de uma
nação diferente", disse.
O administrador da Funai, Walter Blos, considerou "natural" a
realização do "ritual da chuva". O
chefe da Operação Ianomâmi,
Marcos Vinícius Ferreira, 30, diz
que a sugestão de fazer chover em
Roraima teria sido de Mengaron.
"Decidimos facilitar essa ajuda espiritual aos ianomâmis", disse.
Ciência
O Exército também estuda fazer chover, mas usando técnicas científicas. A 1ª Brigada de Infantaria de Selva pediu à Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia) um técnico para avaliar a possibilidade de provocar chuva na região.
A assessoria de comunicação da brigada informou que o representante da fundação deve chegar durante a semana. De acordo com a brigada, a Funceme é conhecida no Nordeste por suas técnicas de bombardeamento de nuvens para provocar chuva.
Alarme falso
Ontem, às 18h50 (horário local, 19h50 no horário de Brasília), choveu em Boa Vista por cerca de dois minutos. A chuva chegou a animar alguns pedestres e motoristas que estavam na rua.
Cinco pessoas que viajavam na caçamba de uma camionete em frente ao Palácio do Governo, gritaram "Viva! Olha a chuva!".
Alguns pedestres aplaudiram, e alguns motoristas buzinaram. Mas a alegria durou pouco. A quantidade de chuva não possibilitou nem mesmo a formação de poças ou de enxurrada.
A água da chuva apenas deixou marcas esparsas sobre o chão e as capotas dos carros. O céu continua encoberto, como está há alguns dias devido à fumaça dos incêndios que cobre Boa Vista.
Hoje deve chegar a Roraima o deputado federal Fernando Gabeira (PV-SP), membro da comissão de meio ambiente da Câmara.
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