São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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EPIDEMIA INVISÍVEL
Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e educadores defendem inclusão do tema no currículo
Saúde mental deve ser discutida na escola

da Redação

O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, defendeu ontem que pais, alunos e professores sejam educados sobre saúde mental e que o assunto passe a fazer parte do currículo escolar. "A depressão é também uma questão de educação", disse.
O ministro considerou "alarmantes" os dados da reportagem "Depressão leva crianças ao suicídio", publicada ontem pela Folha.
"Os números revelam um problema gravíssimo da sociedade, que atinge diretamente o rendimento escolar", disse Souza.
Segundo o ministro, pais e professores, que têm pouca orientação sobre o problema, acabam punindo o baixo rendimento na escola de crianças e adolescentes deprimidos. "As crianças não têm que ser punidas, têm que ser tratadas", disse o ministro.
Essa também é a opinião do professor de pós-graduação em educação Mario Sergio Cortella, da PUC-SP. Para ele, as escolas devem assumir a saúde mental como conteúdo curricular. "A reportagem mostra o quanto o assunto tem impacto no dia-a-dia. O tema hoje é tão importante quanto a educação sexual e a educação para o trânsito, por exemplo."
O assunto, diz Cortella, não deve ser trabalhado somente com os alunos, mas levado também aos pais, que devem receber instruções em reuniões pedagógicas.
O educador acredita que a falta de diálogo nos lares contribui para a depressão. "Um dos maiores traumas da civilização moderna ocorre, por exemplo, quando a Eletropaulo tem constantemente interrompido o fornecimento de luz. As famílias não sabem o que fazer sem luz. Em vez de fazer uma reunião familiar, mandam as crianças dormir, perdendo a possibilidade da conversa."
Cortella também acredita que o consumismo excessivo a que as crianças estão expostas contribui para o estresse e a depressão dos estudantes no dia-a-dia. "Existem agendas de crianças de 7 anos mais bem elaboradas que as de executivos. É escola, computação, judô, natação, e, depois, elas têm de fazer as tarefas de fim-de-semana."
O educador José Camilo dos Santos Filho, professor de administração educacional e currículo universitário da Unicamp, acredita que um dos fatores que contribuem para os casos de depressão em estudantes é a queda na auto-estima de crianças e adolescentes rotulados como fracassados por pais e professores.
"Professores e pais não deveriam depreciar os fracassos. Não estigmatizar o fracasso deve ser uma receita adotada por eles para que esses estudantes confiem em si mesmos. Quem tem sucesso não pensa em destruir a vida."



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