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EPIDEMIA INVISÍVEL
Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e educadores defendem inclusão do tema no currículo
Saúde mental deve ser discutida na escola
da Redação
O ministro da Educação, Paulo
Renato Souza, defendeu ontem
que pais, alunos e professores sejam educados sobre saúde mental
e que o assunto passe a fazer parte
do currículo escolar. "A depressão
é também uma questão de educação", disse.
O ministro considerou "alarmantes" os dados da reportagem
"Depressão leva crianças ao suicídio", publicada ontem pela Folha.
"Os números revelam um problema gravíssimo da sociedade,
que atinge diretamente o rendimento escolar", disse Souza.
Segundo o ministro, pais e professores, que têm pouca orientação sobre o problema, acabam punindo o baixo rendimento na escola de crianças e adolescentes deprimidos. "As crianças não têm
que ser punidas, têm que ser tratadas", disse o ministro.
Essa também é a opinião do professor de pós-graduação em educação Mario Sergio Cortella, da
PUC-SP. Para ele, as escolas devem assumir a saúde mental como
conteúdo curricular. "A reportagem mostra o quanto o assunto
tem impacto no dia-a-dia. O tema
hoje é tão importante quanto a
educação sexual e a educação para
o trânsito, por exemplo."
O assunto, diz Cortella, não deve
ser trabalhado somente com os
alunos, mas levado também aos
pais, que devem receber instruções em reuniões pedagógicas.
O educador acredita que a falta
de diálogo nos lares contribui para
a depressão. "Um dos maiores
traumas da civilização moderna
ocorre, por exemplo, quando a
Eletropaulo tem constantemente
interrompido o fornecimento de
luz. As famílias não sabem o que
fazer sem luz. Em vez de fazer uma
reunião familiar, mandam as
crianças dormir, perdendo a possibilidade da conversa."
Cortella também acredita que o
consumismo excessivo a que as
crianças estão expostas contribui
para o estresse e a depressão dos
estudantes no dia-a-dia. "Existem
agendas de crianças de 7 anos mais
bem elaboradas que as de executivos. É escola, computação, judô,
natação, e, depois, elas têm de fazer as tarefas de fim-de-semana."
O educador José Camilo dos
Santos Filho, professor de administração educacional e currículo
universitário da Unicamp, acredita que um dos fatores que contribuem para os casos de depressão
em estudantes é a queda na auto-estima de crianças e adolescentes rotulados como fracassados
por pais e professores.
"Professores e pais não deveriam
depreciar os fracassos. Não estigmatizar o fracasso deve ser uma
receita adotada por eles para que
esses estudantes confiem em si
mesmos. Quem tem sucesso não
pensa em destruir a vida."
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