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Treinador de futebol é acusado de abusar sexualmente de alunos
DA REPORTAGEM LOCAL
O treinador de futebol infantil
João Batista Lisboa, 39, é acusado
pela polícia de abusar sexualmente de quatro garotos que eram
seus alunos em um centro desportivo mantido pela comunidade do Parque São Lucas, na zona leste de São Paulo, em uma área
cedida pela prefeitura da capital.
As vítimas são dois garotos de
12 anos, um de 13 e outro de 11.
Porém o número total pode ser
maior, diz a polícia, porque Lisboa tinha 110 alunos cadastrados.
O acusado negou, em seu depoimento, ter consumado a violência
sexual contra os garotos, mas descreveu detalhes suficientes para
que policiais envolvidos na investigação o chamassem de "monstro do Parque São Lucas". O treinador está preso desde a última
sexta-feira, depois de ter ficado
uma semana foragido.
Perante a lei penal, as quatro vítimas são tão novas que têm o
mesmo tratamento de uma pessoa com problemas mentais: a
violência é presumida -não tinham condições de resistir. Por
isso, a polícia afirma que não terá
de provar se houve consumação
ou não do atentado violento ao
pudor (penetração anal).
Os meninos narram sucessivos
casos de abuso desde maio do ano
passado, segundo o delegado
Marco Antônio Pereira Novaes de
Paula Santos, 47, da 5ª Delegacia
Seccional. As investidas do treinador teriam acontecido na sede do
centro desportivo e durante viagens do time, sempre com um garoto de cada vez.
"A confiança dos pais era tanta
que os meninos chegaram a viajar
sozinhos com ele. Houve violência contra os meninos no litoral e
no interior", disse Santos.
Lisboa se apresentou na comunidade como ex-jogador de futebol. Cobrava de R$ 5 a R$ 10 de
mensalidade de cada aluno.
A polícia acredita que o caso
não foi descoberto antes porque
as crianças sofreram ameaças.
"Ele as levava à favela perto dali e
mostrava pessoas com armas, dizendo que eram seus conhecidos
e que eles matariam seus pais caso
contassem o que acontecia", disse
o delegado Pietrantonio de Araújo, 39, responsável pelo inquérito.
Dois dos meninos confirmaram
a suspeita em depoimento. ""Nunca fui para o quartinho [no centro
desportivo" por causa de dinheiro, mas porque ele ameaçava matar meu pai e minha mãe", afirmou uma das vítimas, de 11 anos.
A história só começou a ser descoberta no último dia 15, quando
um dos meninos chegou em casa
nervoso, querendo tomar banho.
Ao inspecionar a roupa dele, diz a
polícia, a mãe encontrou manchas no calção e na cueca do filho
que podem ser sêmen. A polícia
enviou as roupas para perícia no
Instituto de Criminalística.
A partir disso, o garoto de 11
anos indicou amigos que teriam
sido vítimas de abuso. Os pais dele procuraram as outras famílias
e, juntos, deram queixa na polícia.
Dois dias depois, no dia 17, os
pais de um dos meninos gravaram uma conversa telefônica entre ele e o acusado. O homem da
gravação, que seria Lisboa, segundo a polícia, tentou saber se o menino havia contado "algo" à sua
mãe e disse que pretendia viajar.
No exame clínico, os médicos
do Instituto Médico Legal não encontraram vestígios de violência
sexual (penetração). Três psicólogos acompanharam os depoimentos dos garotos.
Perfil
Lisboa ganhou credibilidade no
Clube Desportivo São Lucas, por
se apresentar como jogador aposentado e afirmar ter contato com
grandes times de futebol. "Ele era
conhecido no meio, apresentava
os bons jogadores para os times
grandes e fazia excursões com as
crianças para campeonatos no interior", afirmou Alessio Angelino
Bressan, 76, presidente do clube.
Lisboa não apresentou nenhum
documento para dar as aulas. "A
gente cedia a quadra e ele cobrava
das mães", disse Bressan. Segundo ele, o treinador tinha um comportamento exemplar. "Ele era
educado, nunca tivemos nenhuma reclamação", afirmou.
O presidente do clube conta
ainda que Lisboa só aceitava treinar garotos que frequentassem a
escola e tivessem "boas notas".
A quadra usada por Lisboa fica
nos fundos do clube. No local, há
quatro vestiários com cadeados
nas portas que eram usados pelas
crianças e um pequeno quarto,
com uma cama de solteiro, onde
dorme um ex-funcionário. O
quarto teria sido usado para cometer os abusos.
De acordo com a prefeitura, o
clube é de total responsabilidade
da comunidade e a diretoria deve
ter mais cuidado na contratação
de seus professores.
(ALESSANDRO SILVA E MELISSA DINIZ)
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