São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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Treinador de futebol é acusado de abusar sexualmente de alunos

DA REPORTAGEM LOCAL

O treinador de futebol infantil João Batista Lisboa, 39, é acusado pela polícia de abusar sexualmente de quatro garotos que eram seus alunos em um centro desportivo mantido pela comunidade do Parque São Lucas, na zona leste de São Paulo, em uma área cedida pela prefeitura da capital.
As vítimas são dois garotos de 12 anos, um de 13 e outro de 11. Porém o número total pode ser maior, diz a polícia, porque Lisboa tinha 110 alunos cadastrados.
O acusado negou, em seu depoimento, ter consumado a violência sexual contra os garotos, mas descreveu detalhes suficientes para que policiais envolvidos na investigação o chamassem de "monstro do Parque São Lucas". O treinador está preso desde a última sexta-feira, depois de ter ficado uma semana foragido.
Perante a lei penal, as quatro vítimas são tão novas que têm o mesmo tratamento de uma pessoa com problemas mentais: a violência é presumida -não tinham condições de resistir. Por isso, a polícia afirma que não terá de provar se houve consumação ou não do atentado violento ao pudor (penetração anal).
Os meninos narram sucessivos casos de abuso desde maio do ano passado, segundo o delegado Marco Antônio Pereira Novaes de Paula Santos, 47, da 5ª Delegacia Seccional. As investidas do treinador teriam acontecido na sede do centro desportivo e durante viagens do time, sempre com um garoto de cada vez.
"A confiança dos pais era tanta que os meninos chegaram a viajar sozinhos com ele. Houve violência contra os meninos no litoral e no interior", disse Santos.
Lisboa se apresentou na comunidade como ex-jogador de futebol. Cobrava de R$ 5 a R$ 10 de mensalidade de cada aluno.
A polícia acredita que o caso não foi descoberto antes porque as crianças sofreram ameaças. "Ele as levava à favela perto dali e mostrava pessoas com armas, dizendo que eram seus conhecidos e que eles matariam seus pais caso contassem o que acontecia", disse o delegado Pietrantonio de Araújo, 39, responsável pelo inquérito.
Dois dos meninos confirmaram a suspeita em depoimento. ""Nunca fui para o quartinho [no centro desportivo" por causa de dinheiro, mas porque ele ameaçava matar meu pai e minha mãe", afirmou uma das vítimas, de 11 anos.
A história só começou a ser descoberta no último dia 15, quando um dos meninos chegou em casa nervoso, querendo tomar banho. Ao inspecionar a roupa dele, diz a polícia, a mãe encontrou manchas no calção e na cueca do filho que podem ser sêmen. A polícia enviou as roupas para perícia no Instituto de Criminalística.
A partir disso, o garoto de 11 anos indicou amigos que teriam sido vítimas de abuso. Os pais dele procuraram as outras famílias e, juntos, deram queixa na polícia.
Dois dias depois, no dia 17, os pais de um dos meninos gravaram uma conversa telefônica entre ele e o acusado. O homem da gravação, que seria Lisboa, segundo a polícia, tentou saber se o menino havia contado "algo" à sua mãe e disse que pretendia viajar.
No exame clínico, os médicos do Instituto Médico Legal não encontraram vestígios de violência sexual (penetração). Três psicólogos acompanharam os depoimentos dos garotos.

Perfil
Lisboa ganhou credibilidade no Clube Desportivo São Lucas, por se apresentar como jogador aposentado e afirmar ter contato com grandes times de futebol. "Ele era conhecido no meio, apresentava os bons jogadores para os times grandes e fazia excursões com as crianças para campeonatos no interior", afirmou Alessio Angelino Bressan, 76, presidente do clube.
Lisboa não apresentou nenhum documento para dar as aulas. "A gente cedia a quadra e ele cobrava das mães", disse Bressan. Segundo ele, o treinador tinha um comportamento exemplar. "Ele era educado, nunca tivemos nenhuma reclamação", afirmou.
O presidente do clube conta ainda que Lisboa só aceitava treinar garotos que frequentassem a escola e tivessem "boas notas".
A quadra usada por Lisboa fica nos fundos do clube. No local, há quatro vestiários com cadeados nas portas que eram usados pelas crianças e um pequeno quarto, com uma cama de solteiro, onde dorme um ex-funcionário. O quarto teria sido usado para cometer os abusos.
De acordo com a prefeitura, o clube é de total responsabilidade da comunidade e a diretoria deve ter mais cuidado na contratação de seus professores. (ALESSANDRO SILVA E MELISSA DINIZ)

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