DA REPORTAGEM LOCAL

O pediatra Rinaldo De Lamare, 92, enterrado ontem no Rio, teve o mérito de manter atualizado durante seis décadas e 41 edições o livro que se tornou uma bíblia para os pais -"A Vida do Bebê". Escrito em 1941, o livro vendeu cerca de 6,5 milhões de exemplares e influenciou pelo menos 15 milhões de pessoas.
De Lamare, que morreu anteontem, sofreu um derrame em 2001, após revisar a última versão do livro. Formado na Faculdade Nacional de Medicina, hoje parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi membro da Academia Nacional de Medicina, da American Academy of Pediatrics e presidiu a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"Durante anos, o livro foi a única fonte de informação para muitos pais", diz Sandra de Oliveira Campos, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e chefe do PS infantil do Hospital São Paulo. Para ela, o livro foi muito importante aos pais "de primeira viagem", que tiveram pouco contato com crianças.
Quando "A Vida do Bebê" foi escrito, as primeiras vacinas estavam em teste. Hoje são mais de 12 disponíveis para crianças. "Antes, a preocupação era impedir que a criança morresse. Hoje, o pediatra preocupa-se com um adulto saudável em todos os sentidos", diz Jayme Murahovski, diretor da SBP e chefe da pediatria do Hospital 9 de Julho, de São Paulo.
O mérito de De Lamare foi manter um best-seller atualizado ao longo de tantas mudanças, afirmam os médicos.
Lincoln Silveira Freire, presidente da SBP, diz que a pediatria deste século "busca o equilíbrio afetivo e a construção da personalidade da criança". "Hoje o pediatra tem uma abordagem generalista, de integração da criança", diz. "Investiga a relação com a família, a escola, a alimentação. Sua função não é apenas a de prevenir doenças, mas de prevenir acidentes, de prevenir a violência." Rinaldo De Lamare atualizava as edições de seu livro nessa direção. (AURELIANO BIANCARELLI)