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VIOLÊNCIA NO CAMPUS
Veteranos acusam calouro de fazer disparo, o que ele nega; alunos trocam ofensas e ameaças na internet
Polícia investiga tiro durante trote na Uerj
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia Civil e a Faculdade de
Medicina da Uerj (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro) investigam um suposto tiro dado no
mês passado no campus por um
calouro revoltado com abusos de
um grupo de veteranos no trote.
O incidente, mais que um registro
policial, está levando alunos e a
direção a rediscutir os limites das
brincadeiras a que são submetidos os novos estudantes.
O assunto divide opiniões na faculdade e repercutiu em um fotoblog de alunos na internet. Algumas mensagens, anônimas, dizem que "tudo isso começou com
as cotas". Outras ameaçam retaliar o aluno que teria dado o tiro:
"Calouro, abre o olho, ou você
acha que só você tem uma arma?
É você fora da faculdade ou você
comendo terra". Depois que a Folha entrevistou os alunos, as mensagens foram retiradas do site.
Há várias versões entre alunos
sobre o trote e sobre o suposto tiro. A Folha conversou com o calouro acusado de dar o tiro. Ele
negou ter feito isso, mas afirmou
que um grupo de quatro alunos, à
revelia da comissão de recepção
dos calouros e do CA (Centro
Acadêmico), tentou obrigar estudantes a participar de atividades
extremamente vexatórias.
A mais grave delas teria acontecido na semana do trote, quando
um desses quatro estudantes,
com os amigos, teria exibido seu
pênis para um grupo de calouros
e "ordenado" que um deles desse
um beijo em seu órgão sexual.
Após ter se negado a participar
desse e de outros episódios, a versão do calouro acusado de dar o
tiro -que falou sob a condição de
não ter o nome exposto- é que
ele passou a ser perseguido e que,
semanas após o trote, ao ver que
eles vinham em sua direção para
agredi-lo, ameaçou atirar, mas
sem nunca ter estado armado.
"Nunca usei arma na vida e não
estava armado, mas, quando vi
que vinham na minha direção,
pus a mão dentro da mochila e
fingi estar armado dizendo que
iria atirar. Em seguida saí correndo e não vi mais nada. Só depois
soube que haviam me acusado de
dar o tiro. É totalmente absurdo."
As opiniões se dividem. O estudante Rafael Cobo, ex-diretor do
CA, diz desconhecer relatos de
abusos cometidos por veteranos.
"As brincadeiras do trote aqui
sempre tiveram um sentido de integração. Acho até que a Uerj é
uma das mais tranqüilas faculdades em relação a isso. O que aconteceu foi um fato isolado de um
calouro que teria se sentido humilhado e teria tido essa atitude [de
dar um tiro]. Fiquei abismado
quando ouvi [o relato] porque
nunca vi nada parecido aqui."
Guilherme Runco, diretor de esportes do CA, concorda. "Não vi
violência nas brincadeiras."
A presidente do CA, Vandréa
Rodrigues, que participou da comissão de recepção aos calouros,
diz que, de fato, há um pequeno
grupo mais violento. "Não estou
falando em nome do CA, mas
posso dizer que tivemos o cuidado para mudar essa cultura mais
violenta, que não é apenas de agora. Mas não podemos controlar a
atitude individual de cada um e,
de fato, há um grupo da faculdade
que gosta de aparecer e de mostrar que são fortes. Eles devem ter
se sentido incomodados por um
grupo de calouros que também
chamou a atenção no trote."
Gabriel Santiago, diretor de comunicação do CA, tem posição
semelhante. "Não presenciei os
casos mais graves, mas a gente sabe que o trote tem tradição de humilhação ao calouro que a gente
tentou mudar. Mas infelizmente
não são todos que pensam assim e
acham que as brincadeiras têm de
ser feitas para humilhar."
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