São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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MEC ameaça punir 17 cursos de medicina com notas ruins

Faculdades serão supervisionadas; quatro universidades federais estão na relação

Supervisão já ocorreu com cursos de direito; entre as punições previstas estão corte de vagas e suspensão de novos processos seletivos

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Educação divulgou ontem a lista dos 17 cursos de medicina que serão supervisionados por causa das baixas notas dos seus alunos no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes).
O processo de supervisão será semelhante ao que está em andamento com as áreas de direito e pedagogia. Inicialmente, os cursos serão notificados pelo ministério e terão dez dias para explicar o mau desempenho.
Depois disso, a comissão nomeada pelo MEC poderá realizar vistorias e sugerir medidas para a melhoria dos cursos.
Se houver consenso sobre elas, será assinado um termo de compromisso; senão, a pasta poderá abrir um procedimento administrativo.
Entre as punições poderão estar o corte de vagas, já anunciado para 51 cursos de direito, ou, no limite, a suspensão de novos processos seletivos.
De qualquer maneira, segundo o MEC, os alunos já matriculados não serão afetados por eventuais punições, já que as mudanças valem apenas para os vestibulares posteriores.
Também podem ser acordadas melhorias de infra-estrutura e contratação de mais professores, por exemplo.

Quatro federais
Dos 17 cursos que serão supervisionados, quatro são de universidades federais, incluindo o mais antigo do país, o da Universidade Federal da Bahia, criado há 200 anos. Os outros três são os de Alagoas, Amazonas e Pará.
Segundo Ronaldo Mota, secretário de Educação Superior do MEC, essas instituições, como as outras, estão sujeitas a cortes de vagas -"caso essa seja a determinação da comissão".
Ele evitou explicar o motivo do mau desempenho -o que, segundo ele, deverá ser feito pela comissão. Admitiu, porém, a possibilidade de o mau resultado ter sido provocado pelo boicote dos estudantes, que, em algumas instituições, criticam a política de avaliação do MEC, em especial a elaboração de rankings.

Notas baixas
Os cursos que serão supervisionados obtiveram notas 1 e 2, em uma escala de 1 a 5, tanto no conceito Enade, que mede o conhecimento dos universitários, como no conceito IDD, que, a partir da comparação entre o desempenho de calouros e de formandos, mede quanto conhecimento as instituições agregaram ao aluno.
Além dos 17 cursos listados, há outros três que tiraram as mesmas notas, mas não serão supervisionados, pois estão sob a jurisdição de Estados e municípios. É a situação da Universidade de Taubaté e da Universidade Regional de Blumenau, ambas municipais, e da Universidade Estadual de Londrina.
O Brasil tem 175 faculdades de medicina, mas só 103 foram avaliadas -as outras ainda não têm turmas formadas ou não aderiram ao exame.
"Se até 1994 tínhamos 80 faculdades de medicina, hoje temos 175. Os mecanismos de autorização não estavam permitindo que o MEC proibisse o crescimento fora de propósito", disse Adib Jatene, presidente da comissão avaliadora, referindo-se a regras mais rígidas para a aprovação de novos cursos na área publicadas recentemente. Durante o governo Lula, foram criados 51 cursos de medicina.

Desempenho desigual
A situação das federais no Enade é desigual: embora quatro delas estejam entre as mais mal avaliadas, seis obtiveram nota máxima nos dois conceitos do exame. São elas a federal do Rio Grande do Sul, de Goiás, de Santa Maria (RS), do Piauí e de Mato Grosso, e a Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Os cursos mais bem avaliados de São Paulo foram os da Santa Casa e da Faculdade de Medicina do ABC, com quatro pontos nos dois conceitos.
A USP e a Unicamp (Campinas) não são avaliadas por decisão própria -a participação no Enade é voluntária. Já os alunos da Universidade Estadual Paulista anularam a prova -para o Inep (instituto de pesquisa ligado ao MEC), todos os alunos tiraram zero.


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